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Natália Faria escreveu «Bispos vão analisar lista de padres abusadores “nome a nome”, mas não garantem afastamento», publicado a 3 de março de 2023. Este trabalho motivou o aluno João Miguel Rodrigues Pinhal, do 12.º ano do Agrupamento de Escolas de Sampaio, a escrever o seu texto de opinião para participar, em março, no concurso "Isto também é comigo!".
Esse texto, que agora publicamos, foi distinguido pelo júri, composto por: Cláudia Sá, professora de Português e coordenadora do Clube de Jornalismo da Escola Básica António Correia de Oliveira, em Esposende, Gustavo Pereira, aluno do AE de Águas Santas, Carla Fernandes, da Rede de Bibliotecas Escolares, e a jornalista do Público Carolina Franco.
Este concurso, mensal, é uma Iniciativa do PÚBLICO na Escola e da Rede de Bibliotecas Escolares (consultar regras de participação).
A Igreja pouco faz e pouco deixa fazerO mês da vergonha acabou. Não obstante, a imoralidade da Igreja Católica portuguesa sobrevive e a resposta da sociedade permanece insuficiente perante a monstruosidade a que foram sujeitas as vítimas de uma instituição que, em vez de as salvaguardar, teima em proteger deliberadamente os alegados agressores. Sim, infelizmente, é tão simples quanto isto. Como o PÚBLICO noticiou a 3 de março, José Ornelas ousou considerar pouco plausíveis os dados revelados, que eram, porém, fruto de um trabalho de investigação rigoroso. Defendendo-se com questões jurídicas, a Igreja deixou não sei onde aquilo que tanto apregoa: a moralidade. O que faz a instituição para honrar as vítimas do passado e evitar que outras engrossem a lista no futuro? Afastar suspeitos ou indemnizar vítimas? Não. Recorre a insensíveis palavras para defender a maculada Igreja. É assim que procede Manuel Clemente. Será para ele uma inóspita ideia oferecer aos mais jovens Educação Sexual? Sim: o cardeal-patriarca assinou, em 2020, um manifesto contra a obrigatoriedade da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. Não quer, assim, que as crianças e os adolescentes sejam sensibilizados para a necessidade de compreender e denunciar abusos e de ter a consciência de que qualquer ato sexual sem consentimento é crime, seja com menores ou com adultos. Manuel Clemente deixa, desta forma, a proteçãode crianças ser, ignobilmente, ultrapassada em importância pela indecência que será, para a Igreja, falar sobre sexo. Em comunicado à imprensa, em junho de 2022, o partido de André Ventura, católico radical, considera “atentatório dos princípios elementares da liberdade” o caráter obrigatório da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. Promover direitos humanos e construir uma sociedade ativa destrói a liberdade de quem? In extremis, evita que partidos profundamente perigosos para as liberdades cívicas alcancem o poder. Os autoproclamados guerreiros contra a pedofilia em vez de a combaterem, perpetuam-na com populismos desbragados e ineficazes. A Igreja pouco faz e pouco deixa fazer. Ironia das ironias é, em agosto, ir dar uma festa com a sua mais alta figura hierárquica para celebrar a juventude. Qual? Aquela que não protegem, nem deixamque seja protegida em nome de dogmas religiosos subversivos da dignidade humana? Pois, é essa mesmo Agrupamento de Escolas de Sampaio, Sesimbra 12.ºano |