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“Afinal o que querem que sejamos?”, pergunta Rodrigo Caldeira. E vence em janeiro

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“Afinal o que querem que sejamos?”, pergunta Rodrigo Caldeira. E vence em janeiro

[24.02.2023]
 
Aluno de Vila Real escolheu opinar acerca do modelo de avaliação e de acesso ao ensino superior, cujas limitações aponta.

O PÚBLICO dedicou duas páginas da edição de 6 de janeiro de 2023 ao tema do acesso ao ensino superior. “Portugal será dos poucos a não ter exames para conclusão do secundário”, dizia o título do texto principal, assinado pelo jornalista Samuel Silva. O trabalho, também publicado online, levou Rodrigo Caldeira, aluno do 10.º ano na Escola Secundária São Pedro, em Vila Real, a escrever um texto de opinião acerca do assunto e a participar, em janeiro, no concurso "Isto também é comigo!". Esse texto, que agora publicamos, mereceu a preferência do júri, composto por: Carla Fernandes, em representação da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE); Cláudia Sá, professora de Português e coordenadora do Clube de Jornalismo da Escola Básica António Correia de Oliveira, em Esposende; Cristina Lin, aluna do Agrupamento de Escolas Emídio Navarro, em Almada; e Mariana Oliveira, jornalista do PÚBLICO. O concurso, mensal, é uma Iniciativa do PÚBLICO na Escola e da RBE (consultar regras de participação). A versão final do modelo de acesso ao ensino superior viria a ser anunciada, pelos ministérios da Educação e do Ensino Superior, no dia 6 de fevereiro.

Foto de Sofia Rodrigues

 

 

Paradoxos do sistema educativo português: afinal o que querem que sejamos?

Durante o mês de janeiro, foram avançadas notícias relativas ao novo modelo de acesso ao ensino superior, cuja proposta previa, para além da obrigatoriedade de realização de três exames, que as provas deixassem de ser obrigatórias para a conclusão do ensino secundário, mas que se mantivessem para quem prosseguisse os estudos. Estes poderiam valer, pelo menos, metade da nota de acesso a uma universidade ou a um politécnico.

Este sistema de avaliação reflete, quanto a mim, um dos paradoxos do atual sistema de ensino em Portugal. Ainda há pouco tempo fui, numa aula, convidado a ver o filme “O clube dos poetas mortos”. Neste filme, o professor Keating não hesita em sair das paredes da sala para ensinar aos alunos que aquilo que aprendem nas aulas também vive no exterior. É ainda consensual, ao nível da UE, que, no futuro próximo, as competências mais relevantes para uma vida ativa sejam o pensamento crítico e a criatividade, aspetos importantes na resolução de problemas complexos.

Muitas vezes, ouvimos dizer que o nosso sistema de ensino é arcaico e não dá resposta às necessidades atuais do mercado de trabalho. Pede-se, por um lado, a nós, jovens, que tenhamos capacidade crítica, que participemos ativamente no contexto da nossa aprendizagem. Por outro lado, atribuem-nos um sistema de avaliação que valoriza a memorização ao invés da aprendizagem contínua, duas horas ao invés de três anos de participação, reflexão e avaliação. Um sistema que contribui para o aprofundar das desigualdades entre os alunos que têm capacidade financeira para se prepararem com a ajuda de explicadores, e aqueles que, sem meios, estudam sozinhos.

Ensinam-nos a valorizar e a respeitar os professores, mas é o próprio sistema que desconfia da sua capacidade em analisar o aluno durante um, dois ou três anos letivos. Se a ideia é promover o equilíbrio entre o público e o privado, que se fiscalize mais, em vez de condicionarem o nosso futuro a duas horas de um exame elaborado sobre a alcatifa de um qualquer gabinete, sem ter em conta aquele professor que nos acompanhou no litoral e no interior, em casa, através de um ecrã, ou na escola. Não pode ser! Isto também é comigo!

Rodrigo Caldeira
10.º ano
Escola Secundária São Pedro – Vila Real
 

 

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