Iniciativa que consiste num concurso de escrita criativa que implica escrever um texto original e criativo subordinado a um tema a definir em cada ano. Os textos podem ser apresentados em Língua Portuguesa ou Língua Estrangeira (Inglês, Francês, Espanhol ou Alemão).
Em 2023.2024, o concurso implicou escrever um texto original e criativo subordinado ao tema “Eu, cidadão em democracia”.
Os jovens participantes, divididos em dois escalões (Escalão A - Grupo etário 12-15; Escalão B - Grupo etário 16-19), exercitaram as competências de escrita criativa associadas à reflexão do tema em apreço, tendo agora oportunidade de ver os seus trabalhos no Portal da RBE e do Agrupamento.
[25.04.2024] 14 de março de 2024 Hoje, sentada na minha velha poltrona da varanda, a olhar pela janela para a movimentada rua que tenho à minha frente, penso com os meus botões que, este ano, se comemoram os 50 anos de uns dos dias mais bonitos da minha vida, 25 de abril de 1974. Fico aqui a pensar em toda a reviravolta que Portugal sofreu com um movimento militar. Não posso deixar de pensar, hoje, nas minhas preocupações sobre o estado atual da democracia e a apatia do cidadão moderno. Parece que, apesar de todas as mudanças e avanços que testemunhei, ao longo dos anos, alguns aspetos fundamentais permanecem teimosamente… imutáveis. A democracia, essa nobre ideia que promete igualdade, liberdade e participação cívica, parece ter estagnado no tempo. Em vez de evoluir, teima numa repetição interminável de ciclos: eleições viciadas por interesses corporativos, políticos que priorizam as suas agendas pessoais em detrimento do bem-estar coletivo e um eleitorado, frequentemente, desiludido e insatisfeito ou que, simplesmente, nem quer saber da vida política do seu país. É inconcebível como, mesmo com toda a inovação tecnológica que desfila na nossa sociedade e a facilidade com que acedemos à informação, a hipocrisia e o desrespeito ainda pairam na vida social. A internet, uma ferramenta que deveria conectar e educar, dissemina, infelizmente, o ódio. O cidadão moderno, supostamente mais esclarecido e empoderado do que nunca, falha, constantemente, nos seus deveres em prol do bem-estar coletivo. Olhem, é alarmante o que vejo com os meus olhinhos! Nem vos digo, nem vos conto! E onde estão aqueles que anunciam que vai haver mudança? Onde estão os defensores fervorosos da justiça e da igualdade? Falam, falam muito, mas, infelizmente, são poucos os dispostos a agir, de forma significativa. A participação ativa na sociedade tornou-se uma raridade tal como a lampreia que nem se pode pescar, que é crime. Enquanto os meus cabelos vão ficando mais grisalhos e as rugas já não têm solução, o meu coração, que já precisa de seis medicamentos para continuar a bater, ainda inflama com paixão pela justiça e pelo progresso. Às vezes, ainda me pergunto se o meu tempo, aqui na Terra, testemunhará uma verdadeira revolução da consciência coletiva. Uma revolução que reconheça a importância da responsabilidade cívica, da empatia e da participação democrática ativa. Até lá, continuarei a observar e a esperar, porque já não tenho força para ir para as ruas protestar. A esperança ainda cá está, bem dentro de mim, a esperança de que, um dia, o ciclo se quebre e a luz da verdadeira democracia brilhe mais forte do que nunca! Com esperança e preocupação, Roberta Peralta Martins |