Iniciativa que consiste num concurso de escrita criativa que implica escrever um texto original e criativo subordinado a um tema a definir em cada ano. Os textos podem ser apresentados em Língua Portuguesa ou Língua Estrangeira (Inglês, Francês, Espanhol ou Alemão).
Em 2024.2025, o concurso implicou escrever um texto original e criativo subordinado ao tema “Cidadania e interculturalidade”.
Os jovens participantes, divididos em dois escalões (Escalão A - Grupo etário 12-15; Escalão B - Grupo etário 16-19), exercitaram as competências de escrita criativa associadas à reflexão do tema em apreço, tendo agora oportunidade de ver os seus trabalhos no Portal da RBE e do Agrupamento.
Entre Pontes e FronteirasO avião aterrou suavemente, mas dentro de mim tudo era um turbilhão. Eu, uma portuguesa de dezasseis anos, pisava o solo turco pela primeira vez. Antes de sair do aeroporto, apertei com força a alça da mochila, como se aquilo pudesse segurar o que me restava da minha zona de conforto. A mala ia cheia de roupa e dicionários, mas também de um medo que tentava ignorar. No primeiro dia de aulas, a escola parecia um labirinto de rostos desconhecidos e de sons que provocavam uma enorme confusão na minha cabeça. A professora sorriu e pediu que cada um se apresentasse. Quando chegou a minha vez, limpei as mãos suadas nas calças e tentei dizer: "Merhaba, ben Ana". O som saiu inseguro e estranho. Ouvi alguns risos baixinhos e, de repente, senti-me minúscula. Nos dias seguintes, tropecei nas palavras e nos costumes. No refeitório, os pratos eram diferentes - ervas aromáticas intensas, especiarias que me aqueciam a boca e um chá que parecia estar sempre a ser servido. Em casa, o pão era achatado e servido com queijo salgado ao pequeno-almoço, tão diferente do pão italiano a que estava habituada em Portugal. No autocarro, reparei que ninguém falava alto como os meus amigos faziam no Porto. Pequenos choques culturais que me lembravam, a cada momento, que eu era, para todos os efeitos, uma estrangeira. Mas foi numa aula de História que algo mudou. O professor pediu-nos que falássemos sobre as origens das nossas culturas. Respirei fundo e contei sobre Portugal, os Descobrimentos, a influência mourisca nos nossos azulejos e na nossa gastronomia. Os meus colegas ouviram, curiosos. Quando terminei, um rapaz chamado Emre sorriu e disse que a sua bisavó tinha ascendência portuguesa. A partir desse dia, passei a ver a interculturalidade como uma rua de dois sentidos. Eu aprendia a cultura turca – experimentando baklava e tentava entender o ritual do chá –, mas também ensinava. Cozinhei pastéis de nata para os meus amigos, apresentei o saudoso fado e ensinei, até, alguns passos de danças tradicionais portuguesas, entre tropeções e risos. O ano passou rápido. No último dia, antes de embarcar de regresso a Portugal, sentei-me no mesmo banco onde, meses antes, me sentira uma estrangeira perdida. Agora, percebia que a cidadania ia além de documentos ou de uma nacionalidade. Era sobre o sentido de pertença, sobre a construção de pontes entre pessoas de diferentes origens. Quando divulgaram o meu voo, olhei para trás e sorri. Eu partia, mas deixava um pedaço de mim naquele lugar – e levava comigo pedaços dele… Diana Patrícia Fonseca Tavares, 11º AnoAgrupamento de Escolas Dr. Serafim Leite, S. João da Madeira |