Agrupamento de Escolas/ Escola não agrupada Agrupamento de Escolas Leal da Câmara |
Concelho Sintra |
Localidade Rio de Mouro |
Título da experiência Projeto de Turma - Literacia dos Media |
Qual dos eixos temáticos principais é desenvolvido na sua proposta?
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Data e duração da implementação 2022 |
Descreva brevemente a experiência Desenvolvimento de um currículo de literacia mediática em 2 turmas de 10.º ano, na disciplina Projeto de Turma. Semanalmente (45 min. em cada turma), são desenvolvidas atividades no âmbito de um currículo elaborado pelo docente e validado por uma instituição de ensino superior: http://bit.ly/lm2223 |
Idades dos alunos participantes 14-16 anos |
Disciplinas(s) implicada(s) Projeto de Turma (disciplina de oferta de escola) |
Quais foram os objetivos de aprendizagem?
Estes objetivos articulam-se com as competências associadas ao Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, nomeadamente o domínio da linguagens e textos (capacidades de compreensão e de expressão multimodal), o domínio da Informação e comunicação (pesquisar, descrever, avaliar, validar e mobilizar informação, de forma crítica e autónoma, verificando diferentes fontes documentais e a sua credibilidade; transformar a informação em conhecimento; colaborar em diferentes contextos comunicativos, de forma adequada e segura, utilizando diferentes tipos de ferramentas com base nas regras de conduta próprias de cada ambiente), raciocínio e resolução de problemas, pensamento crítico e pensamento criativo e Relacionamento interpessoal. Os objetivos articulam-se ainda com a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania, no domínio dos media. |
Qual foi a origem desta proposta? A proposta foi projetada a partir do zero e surgiu no contexto do programa doutoral Media e Sociedade da Universidade Autónoma de Lisboa. Foi proposto à direção do agrupamento o desenvolvimento de um currículo de literacia mediática em duas turmas do ensino secundário no âmbito de um trabalho de campo destinado à compreensão do papel da educação formal na aquisição de competências de literacia mediática em alunos do 10.º ano. Para esse efeito, foi elaborada uma proposta de currículo de literacia mediática, tendo por base a segunda edição do Currículo da Unesco de Literacia dos Média e da Informação para Educadores e Alunos (Grizzle, A. et al. (2021). Think Critically, Click Wisely! Media and Information Literate Citizens. UNESCO. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000377068) e os referenciais DigComp 2.2 (Vuorikari, R., Kluzer, S., & Punie, Y. (2022). DigComp 2.2 - The Digital Competence Framework for Citizens. https://doi.org/10.2760/115376) e DigCompEdu (Lucas, M., & Moreira, A. (2018). Quadro Europeu de Competência Digital para Educadores. UA Editora – Universidade de Aveiro) e o Manual de Cidadania Digital do Conselho da Europa (Richardson, J., & Milovidov, E. (2019). Digital citizenship education handbook: Being online, well-being online, and rights online. Council of Europe. https://rm.coe.int/digital-citizenship-education-handbook/168093586f). Foram ainda tidos em conta estudos que apontam as competências de literacia mediática para jovens do ensino secundário, o Perfil dos Alunos à Saída da escolaridade obrigatória e a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania. Esta proposta de currículo foi validada por uma instituição de ensino superior (departamento de Ciências das Comunicação da Universidade Autónoma de Lisboa) e aprovada pelo diretor do agrupamento, mediante parecer positivo do Conselho Pedagógico. Foi ainda apresentada aos encarregados de educação de cada uma das turmas envolvidas e aos respetivos conselhos de turma. |
Que metodologias foram utilizadas? Privilegiou-se a metodologia do trabalho de projeto, entendido como um conjunto de atividades organizadas e sequenciais para a obtenção de um determinado resultado ou produto, em que o objetivo não é tanto a transmissão de conhecimentos, mas sim a aplicação desses conhecimentos com um determinado objetivo. As estratégias adotadas baseiam-se nas seguintes metodologias:
As práticas adotadas partem da ideia da aplicação do conhecimento e põem ênfase em «o que sei fazer com aquilo que sei». Para tal, os alunos são desafiados a refletir sobre aquilo que sabem, aquilo que não sabem, aquilo que precisam de saber, para que é que é preciso aquilo que sabem e onde é que o podem aplicar, etc. O trabalho por projetos não significa desterrar outros modelos de ensino-aprendizagem, mas antes utilizá-los com uma nova perspetiva. Por exemplo, o modelo instrutivo foi adotado ocasionalmente na altura de introduzir explicações; a aprendizagem cooperativa, na altura de trabalhar em equipa; os modelos pessoais, na altura de introduzir a personalização; e o trabalho individual quando se tornou necessário para desenvolver a autonomia, a metacognição, etc. A planificação e o desenvolvimento do projeto não são algo fixo nem estático, são abertos e vão mudando segundo as necessidades, interesses e ritmo dos alunos. O objetivo principal é que aprendam de maneira autónoma, alcancem objetivos, autorregulem a aprendizagem, aprendam a aprender e compreendam o caráter multidimensional da literacia mediática, numa perspetiva interdisciplinar que contribua para o sucesso académico a para a cidadania. |
Se um professor de outro estabelecimento de ensino estivesse interessado em replicar a iniciativa, como a explicaria? Partimos de uma proposta de currículo de literacia mediática (LM) elaborado a partir de referenciais nacionais e internacionais, tendo em conta as competências que vários estudos apontam como adequadas a alunos do ensino secundário (https://bit.ly/lm2223). O projeto é apresentado para aprovação ao Conselho Pedagógico e à Direção. Realizam-se reuniões com os conselhos de turma e com os encarregados de educação para explicar os objetivos e funcionamento do projeto, estabelecendo uma ligação com a Estratégia de Educação para a Cidadania e com o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. No início do ano, efetua-se uma avaliação diagnóstica dos alunos – questionário e prova de LM. Os dados desta avaliação servirão 2 propósitos: adaptação do currículo de LM às necessidades formação e aferição das aprendizagens realizadas (em momentos específicos e no final do ano). De seguida, planificamos o trabalho de acordo com o n.º de aulas disponíveis (dependendo da carga horária semanal da disciplina). No nosso caso, foi:
Opta-se pela metodologia de trabalho de projeto, com avaliação contínua. A avaliação incide não apenas sobre as aprendizagens, mas também sobre o processo e inclui auto e heteroavalição. Todos os alunos produzirão um portefólio digital, sob orientação do professor, onde são registados os principais produtos da sua autoria e a autorreflexão sobre as aprendizagens realizadas. Incentiva-se a participação dos alunos em iniciativas de educação para os media e nos media da escola (rádio, TV e jornal), realizam-se visitas de estudo a instituições de media e encontros com profissionais de media. No final do ano, realiza-se uma nova avaliação global, a fim de aferir as aprendizagens realizadas, por comparação com a avaliação de diagnóstico. |
Qual o grau de participação e de envolvimento dos alunos? Os alunos participam ativamente nas atividades propostas. O projeto funciona durante a componente de currículo Projeto de Turma, que não é de frequência obrigatória por parte dos alunos. Não obstante, todos são assíduos, participam de forma empenhada nas tarefas e manifestam entusiasmo na sua realização. Participaram e estão a participar de forma voluntária em vários desafios que lhes foram propostos, nomeadamente o Oeiras Internet Challenge, o Concurso Media@ção, as Iniciativas Público na Escola (“Isto também é comigo!” e “Jornalistas em rede”) e o Mural By You. Todos os alunos se inscreveram para o Workshop de Televisão promovido pela associação Unidos Pela TV. Está prevista ainda a participação nas iniciativas 7 Dias com os Media e Internet Segura. Participam ainda nos media escolares, como o Jornal Escolar 100 Letras, a Radio Onda Jovem e o Centro de Produção Audiovisual. Todos os alunos criaram um portefólio digital, que atualizam em todas as aulas, e muitas vezes em trabalho para lá das aulas, e onde incluem as atividades desenvolvidas, individualmente ou em grupo, relacionadas com as investigações, com os projetos ou com a participação em iniciativas comunitárias, nacionais ou internacionais. Exemplos de portefólios:
As atividades são planificadas e desenvolvidas em articulação com o conselho de turma, no âmbito do Projeto Curricular de Turma, estabelecendo a ligação dos media às aprendizagens essenciais de cada disciplina, à Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania e ao Perfil dos Alunos. Por outro lado, a metodologia de trabalho favorece o desenvolvimento de competências que são essenciais na atualidade, como a resolução de problemas, a tomada de decisões, habilidades de comunicação, o desenvolvimento de atitudes e valores, o pensamento crítico, as habilidades de avaliação e autoavaliação, etc. |
Como é que o uso da tecnologia enriqueceu ou melhorou a aprendizagem dos alunos? A tecnologia é usada em todas as aulas (os alunos fazem-se acompanhar de um computador portátil ou tablet em todas as aulas). Contudo, o uso da tecnologia é programado não como um fim em si, mas como um meio para atingir os objetivos traçados, o desenvolvimento da literacia dos media e da informação e para as competências de cidadania digital. Privilegia-se o uso das tecnologias digitais para o desenvolvimento da capacidade de criar, receber e divulgar informação, utilizando as ferramentas apropriadas de forma significativa, e tendo em conta valores e atitudes, direitos e responsabilidades, privacidade e segurança. Mas também visando o desenvolvimento do pensamento crítico e da empatia, e a utilização de tecnologias digitais para expressar ideias e opiniões, para o exercício do direito de participação num quadro flexível, aberto, neutro e seguro sem medo de represálias, na defesa da democracia, dos direitos humanos e do Estado de direito. Exemplos do uso da tecnologia com impacto nas aprendizagens dos alunos:
Iremos ainda, ao longo do ano, abordar temas atuais e essenciais para a cidadania, como:
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Que estratégias e instrumentos de avaliação foram utilizados? No início do ano, efetuou-se uma avaliação diagnóstica dos alunos, através de um inquérito por questionário e uma prova de LM. Os dados desta avaliação serviram dois propósitos: a adaptação do currículo de LM às necessidades formação diagnosticadas e aferição das aprendizagens realizadas em momentos específicos e no final do ano. A avaliação da disciplina tem apenas caráter formativo, mas é contínua e da mesma será dado feedback aos alunos, ao conselho de turma e aos encarregados de educação. Os dados recolhidos potenciaram a personalização do percurso de aprendizagem do aluno, tendo em conta as características de cada um. Trata-se, não só, de avaliar o rendimento, mas também, de avaliar a evolução e potencializar a consciência do aluno sobre a sua aprendizagem. Um dos elementos-chave deste projeto é a orientação e o acompanhamento contínuo no processo de aprendizagem dos alunos, integrando o desempenho e a retroalimentação, visando o desenvolvimento das competências de literacia mediática. Na planificação do projeto foram definidos os instrumentos de avaliação que se vão usar e criadas rubricas para cada um dos instrumentos:
O uso de instrumentos variados permitirá a integração de todas as aprendizagens alcançadas num quadro de avaliação coerente. No final do ano, os alunos realizarão uma prova final de literacia mediática, de características semelhantes à realizada no início do ano, a fim de comprovar as aprendizagens realizadas. |
Quais foram as principais conclusões e avaliações tiradas após colocar em prática essa experiência? Encontrando-se ainda a decorrer, não é fácil tirar ilações definitivas, mas a conclusão e avaliação do primeiro módulo - competências técnicas e instrumentais para acesso e uso dos media - permite constatar o impacto sobre as aprendizagens. Ainda que tenha sido neste domínio que se obtiveram melhores resultados na avaliação diagnóstica, as competências dos alunos melhoram muito na avaliação realizada, com a média da turma A1 a subir de 68,1% para 90,5% e a da turma A2 a subir de 62,3% para 79,7%. Aumentou também significativamente o número de alunos que atingiram os níveis mais altos de literacia mediática neste domínio (de 16 para 45) e nenhum aluno se situa agora nos níveis mais baixos (1 e 2). A avaliação diagnóstica realizada no início do ano tornou evidente a necessidade urgente de desenvolvimento de um programa formal de literacia mediática: por exemplo, apenas 5% dos alunos conseguiu identificar uma notícia falsa, e apenas 7% conseguiu encontrar um site fidedigno com o n.º total de população da freguesia onde se localiza a escola, e menos de 10% foi capaz de criar com eficácia um conteúdo digital. Os nativos digitais não são peritos digitais: os jovens não desenvolvem competências digitais sofisticadas apenas por crescerem usando dispositivos digitais, e é necessário que a escola desenvolva essas competências. Por outro lado, fica também evidente que a inclusão dos media na Educação para a Cidadania e o Referencial de Educação para os Media têm, por si só, impactos pouco significativos nas competências mediáticas dos alunos, pois, cinco anos após a implementação da Estratégia, as competências dos alunos não registaram melhorias relativamente a estudos realizados anteriormente. Esperamos que este projeto ajude a demonstrar o impacto de um programa formal de educação para os media no ensino secundário e contribua para sensibilizar os decisores políticos para a importância de incluir a educação para os media no currículo nacional. |
Qual o impacto desta experiência nos alunos e no seu ambiente? Os quadros de acesso e usos dos media pelas crianças e jovens têm sofrido alterações significativas nas últimas décadas, por força das tecnologias e meios digitais, mas também devido às mudanças sociais e culturais que têm ocorrido nas sociedades e das quais os media são expressão e agente. A complexidade e o rápido desenvolvimento dos ambientes digitais e das tecnologias emergentes têm um impacto profundo nas nossas vidas, sociedades e economias. A literacia mediática e da informação é pois uma componente essencial da formação dos jovens, fundamental para a sua integração na vida ativa. Considerando ainda que o ambiente digital proporciona um meio sem precedentes para as pessoas se expressarem, para se reunirem e participarem, e abre novas oportunidades para melhorar o acesso e a inclusão, bases do bom funcionamento das instituições democráticas, é importante assegurar que os alunos são capazes de participar ativamente nos ambientes digitais, estando também conscientes das regras de proteção e segurança que lhes permitam enfrentar os desafios e riscos daí decorrentes. A escola deve pois assegurar o desenvolvimento de um conjunto de competências fundamentais para o exercício de uma cidadania livre e informada, e para a formação de cidadãos capazes de tomarem as suas próprias decisões com base nas informações disponíveis, de forma segura e responsável. Pensamos que este projeto, que pretendemos alargar a todas turmas do 10.º ano próximo ano, e que contou com a colaboração de parceiros como a Rede de Bibliotecas Escolares, a Associação Unidos pela TV, o Centro de Formação de Professores de Sintra e de investigadores universitários na área dos media (Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Autónoma de Lisboa), irá desenvolver nos alunos a capacidade de beneficiar das oportunidades que os ambientes digitais proporcionam e contribuir de forma clara para o desenvolvimento do conjunto de capacidades do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. |
Que melhorias incluiria se repetisse esta experiência? Pensamos que a principal melhoria será o alargamento da experiência a mais turmas do ensino secundário na nossa escola e a sua divulgação, de modo a poder ser adotada por outras escolas. A versão definitiva do currículo de literacia mediática (após os ajustes resultantes deste primeiro ano de aplicação) e o relatório final da experiência serão utilizados para propor à tutela a inclusão da disciplina de literacia dos media como oferta de escola para qualquer ano do ensino secundário. A experiência será igualmente objeto de divulgação, permitindo que outras escolas possam adotá-la ou adaptá-la ao seu contexto educativo. Está ainda em preparação, em colaboração com o Centro de Formação da Associação de Escolas de Sintra, a realização de uma oficina de formação de 50 horas para professores do concelho de Sintra, a fim de os preparar para a reproduzirem a experiência noutras escolas e eventualmente lecionarem a disciplina, caso a mesma venha a ser constituída. |
Gostaria de fazer algum comentário adicional? A Literacia para os Media é hoje essencial para uma cidadania mais qualificada e para uma sociedade mais inclusiva. O modo como os media habitam o nosso quotidiano, criando novas formas de lazer, mas também novos modos de trabalhar, de estudar, de conhecer o mundo, de comunicar, de nos informarmos e de criarmos, torna fundamental que os jovens aprendam a ler e a analisar criticamente esses meios, os seus usos e apropriações e a saber criar, produzir e participar de forma informada e segura. A existência de um programa formal de literacia dos media e da informação garantirá que a escola continua a desempenhar o seu insubstituível papel na sociedade do século XXI. |