«Durante o Estado Novo (1926-1974), censuravam-se os jornais, as revistas, as peças de teatro, os filmes e a televisão ainda antes de chegarem ao público; era a chamada Censura Prévia. A Literatura também podia ser censurada, mas geralmente só depois de estar publicada. Não havia capacidade de examinar tudo antecipadamente e se um livro fosse proibido depois de impresso o prejuízo da editora seria mais grave. A exata extensão das atividades da Direção dos Serviços de Censura ainda se ignora porque as suas instalações em Lisboa foram invadidas por populares em 26 de abril de 1974 e parte da documentação perdeu-se. Estima-se que os censores tenham examinado entre 7 a 10 mil livros, muitos deles proibidos por «inconvenientes» e os seus autores vigiados ou perseguidos pela Polícia Política do regime»
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra
A memória histórica e o apelo ao conhecimento e investigação sobre factos, ideologias, formas de ler e fazer, promovendo diferentes literacias e a consciência cidadã deram origem a este projeto que, sendo da responsabilidade de uma biblioteca geral do Ensino Superior, desde logo se destinou ao público escolar não universitário, o que, naturalmente, convoca as bibliotecas escolares.
Trata-se de uma exposição itinerante sobre livros e autores censurados durante o Estado Novo, concebida pela Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, em resposta a um desafio feito pelas coordenações locais do Plano Nacional das Artes e da Rede Nacional de Bibliotecas Escolares que integra as programações oficiais dos 50 Anos do 25 de Abril da Universidade de Coimbra e da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril.
Cinco conjuntos de exemplares de livros proibidos durante o Estado Novo, facsimilados pela editora A Bela e o Monstro, circulam em caixas pelas bibliotecas escolares. Concebidas pelo Atelier do Corvo, essas caixas com uma frente perfurada, integram a própria exposição: uma estará fechada, podendo espreitar-se as lombadas de livros que estão inacessíveis. A outra liberta os livros, nos quais uma cinta impressa permite, através de um QR Code, ter acesso à informação textual sobre o processo de censura da respetiva obra e ouvir o despacho que a proibiu e/ou um excerto do texto. Os textos são ditos por atores e atrizes de Coimbra.
A exposição é composta por 30 obras, sobre as quais se disponibiliza também, em linha, um conjunto de informações selecionadas: além das leituras de extratos assinalados no relatório do censor, um trecho de um conto, extratos da própria obra ou outra informação.
Embora a exposição física se destine primeiramente à itinerância no concelho de Coimbra, a sua dimensão digital e a disponibilização de recursos validados e instrumentos de apoio às escolas (descarregáveis) permitirão que as bibliotecas escolares de todo o país dela se apropriem e colaborativamente criem cenários de exploração e aprendizagem, que poderão integrar nas atividades propostas pela RBE para a dinâmica Abril depois de Abril.