Apresentamos algumas propostas de atividades que permitem, não só estimular a leitura e a exploração de excertos de livros da coleção Biblioteca da Censura, publicada pelo Público e a editora A Bela e o Monstro, como também gerar a consciencialização e a intervenção sobre as novas formas de censura que crescem e se disseminam na atualidade, transformando cada pessoa, instituição, empresa ou governo num potencial censor ou vítima.
São exemplo de áreas da atual experiência da censura, o cancelamento social sem direito de defesa ou contraditório, a manipulação de ideias através de desinformação, acesso indevido a dados pessoais e utilização de algoritmos, o excesso de informação que impede a decisão com base em informação relevante e a iliteracia da leitura, da informação, dos media e do digital.
Importa, pois, exercitar o pensamento crítico e colocar os jovens em situações de reflexão/ação que lhes permitam evocar um passado sem perder a noção do contexto hodierno e das vicissitudes da História que tem um pendor de circularidade. Tendo em conta os objetivos traçados no Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória, interagir com fontes do passado poderá contribuir para a construção de melhor(es) futuro(s). E não é para ontem, é para já!
Estas atividades poderão ser integradas nas atividades propostas pela RBE para a dinâmica Abril depois de Abril.
Censura é notíciaA censura e a propaganda são ferramentas que o Estado Novo usou para controlar e manipular a opinião pública, moldando cada pessoa e sociedade à imagem da sua ideologia política e social. Dominava a aparência sobre a realidade. E, hoje, já não é assim?
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Debate: E agora, 50 anos depois?Com base na exploração de elementos dos Arquivos Históricos da Associação 25 de Abril e da experiência de vida de cada criança ou jovem, o professor bibliotecário pode convidar a turma a fazer um balanço da Revolução. Eis questões que podem orientar a conversa entre todos:
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Leitura em voz alta de livros proibidosLer e escrever livremente nem sempre foi permitido. Foram alvo de censura vários escritores portugueses, como Vergílio Ferreira, Soeiro Pereira Gomes, Manuel da Fonseca e Bernardo Santareno e estrangeiros, inclusive Jean-Paul Sartre e William Faulkner, aos quais foi atribuído o Prémio Nobel de Literatura. Também foram alvo de censura escritoras portuguesas, como Natália Correia, Maria Archer e Carmen de Figueiredo ou estrangeiras como Simone de Beauvoir ou Colete. A propósito do livro Novas cartas portuguesas (1972), as suas autoras Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa chegaram mesmo a ser julgadas, tendo sido absolvidas após a Revolução do 25 de Abril de 1974. O professor bibliotecário pode solicitar aos alunos que identifiquem na coleção da biblioteca escolar autores – e autoras - censurados pelo Estado Novo, incentivando-os a criar uma Biblioteca da Censura. |
Oficina de escrita: A minha sombraA imagem da sombra é muito marcante em tempos de ditadura, pelo que representa simbolicamente, quer na figuração, quer na cor, quer nas situações que implica, estando o indivíduo sozinho ou intencionalmente acompanhado.
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Oficina de escrita: Blackhout PoetryEm 1933 a lei previa que os artigos para publicação fossem declarados “autorizado”, “autorizado com cortes”, “suspenso”, “demorado” ou “proibido”, o que implicava a elaboração de um relatório com a opinião pessoal e fundamentada do censor, da qual resultaria uma decisão por parte do Diretor dos Serviços de Censura. Segundo Álvaro Seiça, em 40 anos (1934 - 1974) produziram-se mais de 10.000 relatórios de livros que circulavam em Portugal [1].
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Oficina de escrita: Observar o mundo
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Oficina de escrita: O passado num objeto
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Oficina de escrita: Para lá do tempo
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Patchwork de históriasOs testemunhos de um tempo que se submeteu ao silêncio e ao jugo da ditadura podem ser recolhidos pelos alunos, através de entrevistas a pessoas que vivenciaram essa experiência autêntica (familiares, amigos, vizinhos ou utentes de lares/centros de dia). O objetivo é recolher o maior número de histórias possível e registá-las, em formato digital (mp3) ou por escrito, compondo uma coleção aleatória que poderá ser divulgada digitalmente ou em murais físicos nas escolas. Sugestão de recurso para motivação desta atividade: peça sonora “No Escuro e à Escuta: A Censura e a Propaganda no Estado Novo”, de Sofia Saldanha, que colige testemunhos de Luís de Sttau Monteiro, José Cardoso Pires ou Bernardo Santareno, telefonemas entre censores e entrevistas a pessoas anónimas. |