Desafio anticensura – É p’ra já!

Apresentamos algumas propostas de atividades que permitem, não só estimular a leitura e a exploração de excertos de livros da coleção Biblioteca da Censura, publicada pelo Público e a editora A Bela e o Monstro, como também gerar a consciencialização e a intervenção sobre as novas formas de censura que crescem e se disseminam na atualidade, transformando cada pessoa, instituição, empresa ou governo num potencial censor ou vítima. 

São exemplo de áreas da atual experiência da censura, o cancelamento social sem direito de defesa ou contraditório, a manipulação de ideias através de desinformação, acesso indevido a dados pessoais e utilização de algoritmos, o excesso de informação que impede a decisão com base em informação relevante e a iliteracia da leitura, da informação, dos media e do digital. 

Importa, pois, exercitar o pensamento crítico e colocar os jovens em situações de reflexão/ação que lhes permitam evocar um passado sem perder a noção do contexto hodierno e das vicissitudes da História que tem um pendor de circularidade. Tendo em conta os objetivos traçados no Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória, interagir com fontes do passado poderá contribuir para a construção de melhor(es) futuro(s). E não é para ontem, é para já!

Estas atividades poderão ser integradas nas atividades propostas pela RBE para a dinâmica Abril depois de Abril.

 

 

Censura é notícia 

A censura e a propaganda são ferramentas que o Estado Novo usou para controlar e manipular a opinião pública, moldando cada pessoa e sociedade à imagem da sua ideologia política e social. Dominava a aparência sobre a realidade. E, hoje, já não é assim?

    1. O professor bibliotecário solicita às crianças e jovens que identifiquem, nos jornais e media da atualidade, notícias que informem sobre as novas formas de censura e que as destaquem a Lápis Azul, símbolo da censura do Estado Novo.

    2. Em seguida, pode propor a discussão, com a turma/ comunidade, de cada uma das situações reportadas na imprensa, consciencializando para o dever universal de cada um defender a liberdade de todas as pessoas. 

 

Debate: E agora, 50 anos depois?  

Com base na exploração de elementos dos Arquivos Históricos da Associação 25 de Abril e da experiência de vida de cada criança ou jovem, o professor bibliotecário pode convidar a turma a fazer um balanço da Revolução. Eis questões que podem orientar a conversa entre todos:

        • Que significado tem o 25 de abril?

        • Experienciamos hoje o fim de todas as censuras? Ainda há medo e (auto-)censura? De quê/ quem?

        • Pode haver circunstâncias que justifiquem o controlo da informação e da liberdade de expressão?

        • Qual é a relação entre, por um lado, os regimes políticos ditatoriais e a defesa do politicamente correto, do status quo e, por outro lado, a censura? Sabemos que emergem novas ditaduras quando se exercem novas formas de censura?

        • Meio século depois, precisamos de outra Revolução?

 

Leitura em voz alta de livros proibidos

Ler e escrever livremente nem sempre foi permitido.

Foram alvo de censura vários escritores portugueses, como Vergílio Ferreira, Soeiro Pereira Gomes, Manuel da Fonseca e Bernardo Santareno e estrangeiros, inclusive Jean-Paul Sartre e William Faulkner, aos quais foi atribuído o Prémio Nobel de Literatura.

Também foram alvo de censura escritoras portuguesas, como Natália Correia, Maria Archer e Carmen de Figueiredo ou estrangeiras como Simone de Beauvoir ou Colete. A propósito do livro Novas cartas portuguesas (1972), as suas autoras Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa chegaram mesmo a ser julgadas, tendo sido absolvidas após a Revolução do 25 de Abril de 1974.

O professor bibliotecário pode solicitar aos alunos que identifiquem na coleção da biblioteca escolar autores – e autoras - censurados pelo Estado Novo, incentivando-os a criar uma Biblioteca da Censura.
Posteriormente pode desafiá-los a organizar na comunidade um sarau de leitura em voz alta de excertos dessas obras. 

 

Oficina de escrita:  A minha sombra

A imagem da sombra é muito marcante em tempos de ditadura, pelo que representa simbolicamente, quer na figuração, quer na cor, quer nas situações que implica, estando o indivíduo sozinho ou intencionalmente acompanhado.

    1. Crie um texto poético, tendo como ponto de partida o título "A minha sombra". Não pode utilizar 10 palavras fornecidas pelo professor e apenas são autorizados 10 versos.

    2. Publique o seu texto nos meios digitais da biblioteca escolar. Use o hastag #anticensura

 

Oficina de escrita:  Blackhout Poetry

Em 1933 a lei previa que os artigos para publicação fossem declarados “autorizado”, “autorizado com cortes”, “suspenso”, “demorado” ou “proibido”, o que implicava a elaboração de um relatório com a opinião pessoal e fundamentada do censor, da qual resultaria uma decisão por parte do Diretor dos Serviços de Censura.

Segundo Álvaro Seiça, em 40 anos (1934 - 1974) produziram-se mais de 10.000 relatórios de livros que circulavam em Portugal [1].

    1. Partindo da leitura, análise e seleção de palavras-chave do relatório de censura de um dos livros da coleção Biblioteca de Censura, o professor bibliotecário pode solicitar aos alunos que criem um poema num registo diferente (romântico, político, divertido…), atribuindo um novo significado às palavras do relatório.

    2. Eis os momentos para criação livre do poema:
      1. Identifique o texto que quer ocultar;
      2. Desenhe caixas sobre as palavras ou imagens que quer evidenciar;
      3. Pinte o texto a ocultar.

    3. As crianças e jovens podem organizar uma exposição para mostrar à comunidade os seus trabalhos. Neste caso, cada poema deve indicar, para além do autor, a fonte, i.e., o relatório de censura do livro a que diz respeito, podendo apresentar a respetiva capa.

    4. Publique os textos nos meios digitais da biblioteca escolar. Use o hastag #anticensura

 

Oficina de escrita:  Observar o mundo

    1. Tire uma foto a uma paisagem ou situação.

    2. Pense que contexto ficcional poderia ser representativo dessa imagem no tempo da ditadura.

    3. Conte uma breve história.

    4. Dê-lhe um título.

    5. Crie uma sinopse.

    6. Publique nos meios digitais da biblioteca escolar.Use o hastag #anticensura 

 

Oficina de escrita:  O passado num objeto

    1. Escolha um objeto antigo. Olhe uma vez. Olhe outra vez.

    2. Fotografe-o em diferentes posições. Dê um título a cada imagem.

    3. Escreva um breve episódio possível, do tempo da censura, com esses títulos.

    4. Publique nos meios digitais da biblioteca escolar. Use o hastag #anticensura

 

Oficina de escrita:  Para lá do tempo 

    1. Coloque-se num lugar e num tempo à sua escolha. A sua existência nesse lugar/tempo irá resgatar momentos de vida e encontros.

    2. Prossiga nesse caminho até 1959, crie pontes com o passado e com o futuro, num jogo entre a realidade e a fantasia.

    3. Está algures, a ver-se a si próprio e ao que o rodeia.

    4. Exerça o pensamento crítico.

    5. Publique o seu texto nos meios digitais da biblioteca escolar. Use o hastag #anticensura

 

Patchwork de histórias 

Os testemunhos de um tempo que se submeteu ao silêncio e ao jugo da ditadura podem ser recolhidos pelos alunos, através de entrevistas a pessoas que vivenciaram essa experiência autêntica (familiares, amigos, vizinhos ou utentes de lares/centros de dia).

O objetivo é recolher o maior número de histórias possível e registá-las, em formato digital (mp3) ou por escrito, compondo uma coleção aleatória que poderá ser divulgada digitalmente ou em murais físicos nas escolas.

Sugestão de recurso para motivação desta atividade: peça sonora “No Escuro e à Escuta: A Censura e a Propaganda no Estado Novo”, de Sofia Saldanha, que colige testemunhos de Luís de Sttau Monteiro, José Cardoso Pires ou Bernardo Santareno, telefonemas entre censores e entrevistas a pessoas anónimas.

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