Todos nós usamos a imaginação para criar mundos e cenários
Desde pequena tenho o hábito de imaginar cenários e mundos paralelos. Já me imaginei no mundo de Harry Potter, e outros filmes, e sobretudo na minha vida futura. Sempre achei fenomenal como, através da minha imaginação, poderia ser o que quisesse e estar com quem quisesse. Tinha uma porta por onde podia fugir do mundo real a qualquer hora do dia, era maravilhoso! (Pelo menos eu achava que era).
Quando entrei para o Ensino Secundário, tudo mudou, senti o peso do mundo sobre os meus ombros, tive medo de descer as minhas boas notas, de não ser suficiente. Sempre tive expetativas altas para a minha vida futura, sempre me imaginei a descobrir algo muito importante, sempre ambicionei fazer a diferença no mundo. Com todas estas coisas a pesar no meu subconsciente 24 horas por dia, os cenários que agora crio, enquanto estou na sala de aula, consomem-me a pouco e pouco. Sinto-me numa espiral em que todos estes pensamentos se vão afunilando num só cenário possível, a história de uma pessoa que sonhou tão alto e que caiu, pois, as suas asas incendiaram-se.
A minha mente começa a divagar quando os professores comentam que o meu futuro vai ser brilhante. Aí, esses raios de esperança que eles emanam vão- se eclipsando pela sombra do medo e da ansiedade. Imagino-me numa sala de aula com um exame à frente e vejo-me a virar as páginas, incessantemente, enquanto a minha mão treme. Cada pergunta é um labirinto, cada resposta uma ponte frágil sobre o abismo do desconhecido. Então, acabo por me perder na minha insegurança - o esforço que fiz nestes três anos vai ser atirado para o lixo apenas em duas horas. As paredes dessa minha paisagem mental começam então a refletir os receios de não atingir as expetativas, criando um terreno fértil para a ansiedade florescer cada vez mais e me engolir.
Volto ao mundo real, contudo já não oiço o que a professora diz, e na minha imaginação, esta história trágica continua - com um computador à minha frente, onde tenho o formulário de inscrição para o ensino superior, e não consigo perceber se tive uma boa média. Agora apenas me encontro a olhar para o computador como se estivesse à procura de uma saída do labirinto de incertezas, onde me coloquei a mim própria. Olho para baixo, e no reflexo da tela do meu telemóvel, vejo uma versão negra de mim mesma, sem brilho nos olhos, sem expressão. Sinto o meu corpo a pesar cada vez mais. O meu mundo colapsa e percebo que tudo o que fiz não serviu de nada e que o meu maior medo, não ser boa o suficiente, se tornou realidade. Quando dou por mim, sou sugada de volta à realidade, pelo facto de lágrimas caírem dos meus olhos, como de uma torneira. Respiro fundo, limpo os olhos, e volto a acompanhar o que a professora explica, como se nada se passasse. Mas, na verdade, eu continuava a afundar-me no buraco escuro da minha imaginação.
Raquel Ferreira | 11.ºA Agrupamento de Escolas de Ponte de Sor