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Histórias dentro de uma história

No mês passado, o meu avô morreu. Entristecidos, os meus pais decidiram arrumar o escritório dele, no sótão da nossa casa.

Era um quarto coberto de estantes com livros, com papéis envelhecidos e com cheiro a mofo, espalhados pelo chão. Alguns relógios parados dormiam em pequenas caixas, as malas de viagens gastas descansavam em cima umas em cima das outras, e muitos mapas de terras desconhecidas estavam abandonados ao lado de pequenos barcos e aviões de madeira. O meu lugar preferido era o velho cadeirão de couro, onde o meu avô se sentava horas intermináveis, a folhear os seus papéis amarelados, a ler os seus livros estranhos, e a dar corda aos relógios que teimavam em parar o tempo. Todos aqueles objetos eram pequenos tesouros trazidos de outras épocas. Nunca percebi muito bem como é que o meu avô os arranjou, nem os meus pais sabiam explicar-me. “O teu avô sempre foi muito reservado em relação ao seu passado”, dizia o meu pai. Agora, que ele já não estava connosco, senti um vazio de saudade, mas também curiosidade em saber quem fora realmente. Tinha saudade de me sentar junto ao cadeirão, a ouvir as suas histórias fabulosas, enquanto o meu cão Poeira, dormitava perto de mim.

Numa dessas arrumações, encontrei o livro de histórias fantásticas que ele me lia quando eu era criança. Dizia sempre que aquelas histórias sobre aventuras incríveis e surrealistas tinham realmente acontecido. Os meus pais não acreditavam, diziam sempre que eram uma loucura devido aos problemas mentais dele, que nada daquilo era real, mas eu acreditava porque adorava o meu avô, e porque ele contava as histórias com tanto entusiasmo e seriedade, que me parecia ser possível terem acontecido. É verdade que eu era uma criança, mas mesmo agora, com catorze anos, tudo ainda faz sentido para mim.

O Poeira ladrou alegremente quando viu o livro, como se o reconhecesse e também ele tivesse saudade das histórias do avô. Virei o livro ao contrário e reparei no nome do autor. Abri-o e vi as páginas amarelas, a capa de pele gasta pelo uso, e comecei a folheá-lo. De repente, caiu uma carta. Era para mim! Abri-a e li-a devagar: “Amélia, deixo-te este livro. Espero que gostes de o ler tanto como gostavas de o ouvir. Quero que descubras por ti quem sou eu verdadeiramente. Digo-te que não sou apenas aquele que estava à tua frente, o teu avô Fernando. Mas para o descobrires, tens que decifrar os mistérios que te deixei. Desafio-te a viajar comigo para o passado, mas também para o futuro. Para isso, resolve estas pistas: na página 12 procura a palavra que inicia a linha 13 e descobre o nome do capítulo 5. Com essas palavras vais ter o nome de um velho livro que te vai indicar o caminho para a descoberta sobre a verdadeira identidade do teu avô. Já descobriste, não? Minha cabecinha brilhante e inquieta, sei que sim. Agora, vais ter que procurar esse livro na velha biblioteca da cidade. Nele estará a chave da minha identidade.” Eu estava trémula e ansiosa com esta descoberta… Será que finalmente vou descobrir quem era realmente o meu avô?

Ana Carolina Sousa Pereira; Carolina da Fonseca Monteiro; Miguel Baldaia Alcoforado | 7.º A
Agrupamento de Escolas N.º1 de Marco de Canaveses
 
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