[Iniciativa do projeto PÚBLICO na Escola e da Rede de Bibliotecas Escolares, o concurso “Isto também é comigo!” distingue, todos os meses, um texto de opinião da autoria de estudantes do ensino secundário, tendo como ponto de partida para a reflexão um trabalho do PÚBLICO — que, em maio de 2025, última edição do ano letivo, foi o artigo "Há cada vez mais pessoas sem-abrigo que chegam às urgências por um tecto, comida e higiene”, publicado no dia 13, em formato digital. Integraram o júri, nesta edição: Luísa Gonçalves, coordenadora do PÚBLICO na Escola; Anabela Solinho, professora do AE António Correia de Oliveira, em Esposende; João Lourosa, aluno do 12.º ano do Agrupamento de Escolas de Tondela; e Carla Fernandes, elemento da equipa do Gabinete Coordenador da RBE.]
Quando a urgência se torna um tetoÉ cada vez mais evidente que a habitação tem vindo a tornar-se um dos temas mais urgentes e controversos do nosso país, sendo transversal à política, à economia e ao quotidiano dos portugueses. No entanto, a gravidade do problema atinge um novo patamar quando os serviços de urgência hospitalar passam a acolher não só doentes, mas também pessoas em situação de sem-abrigo, que procuram um teto, alimento e condições mínimas de higiene. A reportagem da Lusa, publicada no jornal PÚBLICO, “Há cada vez mais pessoas sem-abrigo que chegam às urgências por um tecto, comida e higiene”, centra-se nos hospitais de Lisboa e revela como a crise habitacional e o aumento do custo de vida levam a que cada vez mais cidadãos se encontrem em situações de extrema vulnerabilidade. É chocante perceber que, num país europeu no século XXI, ainda existam pessoas que não têm acesso a bens essenciais à vida, recorrendo ao hospital como último recurso para sobreviver. Os serviços de urgência transformaram-se em refúgios improvisados, onde se procura não só assistência médica, mas também dignidade. Não deveria isso ser algo imanente a qualquer ser humano?
Para além disso, os profissionais de saúde estão a ser obrigados a responder a problemas sociais com ferramentas clínicas, desvirtuando a função dos hospitais e agravando o desgaste dos serviços, já sobrecarregados. É urgente repensar a estratégia. A resposta não se pode limitar ao assistencialismo; tem de ser estrutural. É essencial investir em habitação acessível, reforçar os serviços sociais e, sobretudo, garantir apoio antes que seja atingido o ponto de rutura. Afinal, para muitos, a verdadeira urgência não se deteta num eletrocardiógrafo, mas reside antes na ausência de um lar. |