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Quando a urgência se torna um teto

Serviços de urgência ou refúgios? Ana Rita Forner Pereira é a vencedora 

[27.06.2025]

[Iniciativa do projeto PÚBLICO na Escola e da Rede de Bibliotecas Escolares, o concurso “Isto também é comigo!” distingue, todos os meses, um texto de opinião da autoria de estudantes do ensino secundário, tendo como ponto de partida para a reflexão um trabalho do PÚBLICO — que, em maio de 2025, última edição do ano letivo, foi o artigo "Há cada vez mais pessoas sem-abrigo que chegam às urgências por um tecto, comida e higiene”, publicado no dia 13, em formato digital. Integraram o júri, nesta edição: Luísa Gonçalves, coordenadora do PÚBLICO na Escola; Anabela Solinho, professora do AE António Correia de Oliveira, em Esposende; João Lourosa, aluno do 12.º ano do Agrupamento de Escolas de Tondela; e Carla Fernandes, elemento da equipa do Gabinete Coordenador da RBE.]

Fotografia de Joana
“É urgente repensar a estratégia. A resposta não se pode limitar ao assistencialismo; tem de ser estrutural. ”, reforça a aluna do 12º ano.
 
 

Quando a urgência se torna um teto

É cada vez mais evidente que a habitação tem vindo a tornar-se um dos temas mais urgentes e controversos do nosso país, sendo transversal à política, à economia e ao quotidiano dos portugueses. No entanto, a gravidade do problema atinge um novo patamar quando os serviços de urgência hospitalar passam a acolher não só doentes, mas também pessoas em situação de sem-abrigo, que procuram um teto, alimento e condições mínimas de higiene.

A reportagem da Lusa, publicada no jornal PÚBLICO, “Há cada vez mais pessoas sem-abrigo que chegam às urgências por um tecto, comida e higiene”, centra-se nos hospitais de Lisboa e revela como a crise habitacional e o aumento do custo de vida levam a que cada vez mais cidadãos se encontrem em situações de extrema vulnerabilidade.

É chocante perceber que, num país europeu no século XXI, ainda existam pessoas que não têm acesso a bens essenciais à vida, recorrendo ao hospital como último recurso para sobreviver. Os serviços de urgência transformaram-se em refúgios improvisados, onde se procura não só assistência médica, mas também dignidade. Não deveria isso ser algo imanente a qualquer ser humano?


Este fenómeno não pode ser encarado como uma “anomalia social” passageira. Trata-se do reflexo de políticas habitacionais ineficazes, da especulação imobiliária descontrolada e de uma rede de apoio social incapaz de responder com a rapidez e a eficácia necessárias. Quando uma cama de hospital passa a ser mais acessível do que uma cama num quarto arrendado, não é um indício de que algo está errado?

Para além disso, os profissionais de saúde estão a ser obrigados a responder a problemas sociais com ferramentas clínicas, desvirtuando a função dos hospitais e agravando o desgaste dos serviços, já sobrecarregados.

É urgente repensar a estratégia. A resposta não se pode limitar ao assistencialismo; tem de ser estrutural. É essencial investir em habitação acessível, reforçar os serviços sociais e, sobretudo, garantir apoio antes que seja atingido o ponto de rutura.

Afinal, para muitos, a verdadeira urgência não se deteta num eletrocardiógrafo, mas reside antes na ausência de um lar.

Ana Rita de Amorim Forner Pereira, 12º ano
Agrupamento de Escolas João da Silva Correia, São João da Madeira
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