Alda Lara: n. Angola, 1930, poetisa.

 

PRELÚDIO     

Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela...

Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guisos,
nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.

Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...

Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada...

Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?...

Que é feito desses meninos 
que ela ajudou a criar?...
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...

Mãe-Negra não sabe nada...

Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!...

Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias
que costumavas contar...

Muitos partiram p'ra longe,
quem sabe se hão-de voltar!...

Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.

É a tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada..

Lara, A. (1951). “Prelúdio”, in: Carreiro, José. (s.d.). Folha de poesia. https://folhadepoesia.blogspot.com/2017/08/alda-lara.html  [poema cantado por Paulo de Carvalho e outros] 


Veja também:

 

 

_
Contactos
_
Acessibilidade
_
Lista de distribuição
_
Blogue
_
Facebook
_
Instagram
_
Twitter
_
YouTube
_
Flipboard