Camões vai a Marte
Vivo na aldeia Ribeirinha de Porto Manso, no concelho de Baião, e sou uma das responsáveis pelo projeto da primeira viagem tripulada a Marte, diretamente do passado para o futuro.
Teríamos de arranjar elementos com bons registos do passado, para podermos dar uma palestra aos nossos vizinhos marcianos. Convidei o meu amigo de há longos anos - o Luís de Camões - e outro amigo mais recente - o Alves Redol. O Luís vai falar das gentes do meu país e o Redol é muito bom a falar dos meus conterrâneos de Porto Manso – até já escreveu um livro com o mesmo nome. O primeiro vai falar sobre as grandes viagens, batalhas e outros feitos dos portugueses. O segundo, sobre a bravura dos meus conterrâneos, quando transportavam vinho fino (agora chama-se vinho do Porto), em barcos rabelos, ao longo do furioso Douro.
Não deixa de ser curioso, um viajou em água salgada e o outro em água doce. Por isso, foi bastante difícil selecionar o tipo de água que vamos levar como amostra - parece que os marcianos não conhecem este líquido. Achei que poderíamos levar 0,5 litro de cada, uma vez que o máximo permitido neste tipo de viagem é de 1,75 litros. Quanto ao produto que melhor carateriza os portugueses, nomeadamente, os do Norte, toda a equipa foi consensual – o vinho do Porto! E, feitos os cálculos, com uma garrafa de vinho do Porto de 0,75 litros, perfazemos o total de líquidos permitidos. O Luís, como ainda não tinha provado este tipo de vinho docinho, bebeu tanto que até ficou a ver pelos dois olhos – julgava ele, pois estava a ver a dobrar!
Na fase de projeto, tivemos alguma dificuldade em definir a forma da nossa nave espacial. O Camões defendia a forma do casco das naus ou das caravelas, o Redol preferia a forma do casco do barco rabelo, argumentando que seria muito mais aerodinâmico. Eu, na altura, inclinei-me mais para o rabelo, considerando que facilitaria a viagem durante o atravessamento da atmosfera terrestre. Mas, por mero acaso, quem havia de chegar naquele momento? Nem mais, nem menos, que o nosso português já experiente nestas viagens – o Mário Ferreira – que também nos vai acompanhar até Marte. Ainda me lembro das palavras dele: “Calma pessoal, a nave vai ter a forma dos meus barcos-hotel! E, já agora, contem com uma equipa da TVI que nos irá acompanhar” – disse ele, com aquele sotaque à moda do Porto. Eu nem queria acreditar que a nossa viagem ia ter transmissão direta para a Terra! E, realmente, os barcos dele têm umas grandes janelas e umas varandas nos quartos, o que permitiria apreciarmos melhor a viagem até ao planeta vermelho. Sempre achei que a experiência do super Mário seria uma mais-valia. Só espero que possamos descobrir água em Marte. Caso contrário, será uma grande desilusão para estes três homens que não vivem sem água. Sem água eles não seriam tão famosos: um não teria a oportunidade de viajar e salvar os Lusíadas; o outro não teria escrito Porto Manso; e o outro não teria ganhado dinheiro para ir ao espaço.
Daqui, da janela das instalações da NASA, em Eiriz, junto à Escola Básica, observo a alegria de alguns membros da equipa, nomeadamente, daqueles três homens, em modo de despedida. O Camões está felicíssimo com o novo olho de vidro de uma fábrica da Marinha Grande; o Redol acaba de chegar de uma visita a casa do seu compadre – o escritor Soeiro Pereira Gomes, que vive em Gestaçô; e o Ferreira está a dar uma entrevista para a TVI. Partiremos no dia de Natal e, quando chegar, partilharei um podcast na Classroom da turma!
Vou aMar-te!
17 de dezembro de 2024
Beatriz Costa | 8.º A
Agrupamento de Escolas de Eiriz – Baião