Abro os olhos e estou no que parece ser uma enorme biblioteca. Olho à minha volta e vejo um relógio digital, impossível de não notar. Totalmente estático - 00:00:00. Meia-noite em ponto. Nem mais um minuto, nem menos um segundo. As estantes não são as de uma biblioteca convencional, parecendo, antes, espraiar-se até ao infinito, preenchidas com inúmeros livros, todos eles verdes, embora em diferentes tonalidades, variando apenas em tamanho. Apesar de surreal, o cenário desperta-me uma sensação familiar, como se já tivesse estado neste local. Ergo a minha mão na direção de uma das prateleiras, para analisar melhor um dos livros, e é então que oiço uma voz atrás de mim, vinda de uma mesa feita de madeira em tom castanho-avermelhado sobre a qual se encontra um tabuleiro de xadrez.
– Tem cuidado! – disse a voz. Olho para trás em sobressalto.
– Por favor, tens de ter cuidado.
– Quem és tu? – Volto a ter aquela estranha sensação familiar de que conheço esta pessoa, de que já vivi, de algum modo, esta situação.
– Sou a bibliotecária. – disse a mulher, timidamente – É quem eu sou.
“Calma, calma” ‒ repito para mim mesma com a minha voz interior. O relógio parado na meia-noite, as estantes infinitas, os livros em diversos tons de verde, a bibliotecária… Já sei! É a Senhora Elm! Isto é A Biblioteca da meia-noite! Vim parar ao livro do Matt Haig! Por isso é que tudo me é tão familiar, já li esta história. Aqui, agora, estou na pele da Nora Seed e sei tudo o que acontecerá.
– Senhora Elm – interpelo-a, sem conseguir disfarçar a súbita sensação de euforia que me percorre – então, eu posso realmente escolher um livro, escolher uma vida? Posso saltar de vida em vida? Isto até me aperceber de que, afinal, sempre quis ter a minha vida original, claro. Sei que é assim que vai acontecer. – Digo-o com tanto entusiasmo que o rosto da Senhora Elm se cobre de espanto e confusão.
– O que…? Como é que…? – A bibliotecária tenta formular uma frase, mas, devido ao pasmo, não consegue elaborar muito mais. Em vez disso, fica a olhar para mim com perplexidade no seu olhar, certamente a tentar perceber como é que era possível que alguém já soubesse o significado daquele mágico.
A reação da bibliotecária fez esmorecer a minha euforia.
– O facto de eu já saber tudo isto não vai fazer com que a biblioteca se desmorone, certo? Não vou estragar o livro, pois não? – pergunto, agora com o receio a tomar o lugar do entusiasmo.
– Bom, parece que, de alguma maneira, já sabes todas as “regras”. Portanto, não acho que seja necessário responder a essa questão – diz a senhora Elm, enquanto se dirige de volta para a sua mesa, determinada a continuar o jogo de xadrez contra si.
Subitamente, as prateleiras começaram a mexer-se numa velocidade imensa. Não tinham um sentido único, mexiam-se em vários sentidos, o que também não facilitava a observação dos livros nas estantes.
– O que está a acontecer? – Pergunto, confusa, a tentar acompanhar o movimento das incontáveis – Não era suposto ainda termos uma conversa antes de as prateleiras se mexerem?
– Uma vez que sabes de tudo, essa conversa já não é imprescindível para o desenvolvimento da história. Podemos já avançar para a outra parte: tens de tomar uma decisão, querida, chegou a hora de começar…
Alice Feliciano Ferreira e Beatriz Gonçalves Brás 10.º ano | Agrupamento de Escolas Henriques Nogueira