O PÚBLICO Brasil, onde Davi da Silva Bastos leu a notícia acerca da qual opinou, é um projeto editorial, com a chancela do PÚBLICO, nascido em agosto de 2024.
Iniciativa do projeto PÚBLICO na Escola e da Rede de Bibliotecas Escolares, o concurso “Isto também é comigo!” distingue, todos os meses, um texto de opinião da autoria de estudantes do ensino secundário, tendo como ponto de partida para a reflexão um trabalho do PÚBLICO. Integraram o júri, na edição de dezembro de 2024: Cláudia Sá, professora de Português e coordenadora do Clube de Jornalismo da Escola Básica António Correia de Oliveira, em Esposende; Carla Fernandes, elemento da equipa do Gabinete Coordenador da RBE; Carolina Franco, jornalista, PÚBLICO na Escola; e João Gabriel Cardoso Lourosa, aluno do 12.º ano do Agrupamento de Escolas de Tondela.
Os ventos do sul não movem moinhos“Os ventos do norte não movem moinhos” entoa na canção brasileira "Sangue Latino", da banda Secos & Molhados. Em terras lusas, todavia, o verso transforma-se. Face a salas de aula desertas, escalam os docentes brasileiros muros burocráticos que os impedem de lecionar. Segundo a reportagem de 11 de dezembro, assinada por Jair Rattner, do jornal PÚBLICO Brasil, e intitulada “Parlamento discute restrições a professores brasileiros em escolas de Portugal”, a travessia do Atlântico parece implicar o apagamento de quaisquer competências e qualificações. Absurdo? Não o é para quem, com força crua, impinge aos professores oriundos do Brasil uma experiência de soterramento por papelada e enredamento em exigências desatinadas. Pergunto-me: porquê? Como brasileiro, reconheço na atual conjuntura o eco de preconceitos que associam a nossa origem a uma suposta inferioridade intelectual. Ainda assim, espanta-me que, mesmo sabendo da alarmante crise de recursos humanos na educação, não se engendrem soluções. E casos isolados abundam. Daí a iniciativa de docentes, como Daniel Abreu, e tantos outros, de criar uma petição para ser ouvida no Parlamento. Em vão tentam as instituições, a meu ver, esconder a realidade. Eis a sua máxima: “os ventos do sul não movem moinhos”. Perdem-se no juízo de “horas-aula” ou “créditos”, ignorando uma oportunidade rara. Afinal, com a mesma língua e uma cosmovisão similar, o que distingue um brasileiro de um português numa sala de aula? Reverbera, vazia, a defesa da qualidade do ensino, apesar da experiência letiva e da formação plena dos brasileiros, ficando assim exposto um sistema manifestamente xenófobo, radicado no véu do zelo. Ultimamente, vemos ser separados não apenas professores das suas vocações, mas alunos da sua educação. É um ato de negligência, de cegueira cultural. Como em “Sangue Latino”, ouvimos, nas vozes roucas dos docentes brasileiros, “um grito, um desabafo”. Que Portugal os ouça!”. Davi da Silva Bastos, 12.º anoAgrupamento de Escolas João da Silva Correia, S. João da Madeira |