4 de novembro de 2024, véspera das eleições nos Estados Unidos. Nesse dia, Álvaro Vasconcelos, autor de De Trump a Putin: a Guerra contra a Democracia, assinava, no PÚBLICO, um texto de opinião. O título já sabemos qual era: “Kamala Harris vai derrotar Trump”. O aluno Francisco Antunes discorreu sobre ele e venceu a edição de novembro do concurso “Isto também é comigo!”, iniciativa do PÚBLICO na Escola e da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE). Integraram o júri: Anabela Sobrinho, professora, AE António Correia de Oliveira, Esposende; Lara Batista, aluna do 12.º ano no AE de Monserrate, Viana do Castelo; Luísa Gonçalves, coordenadora do PÚBLICO na Escola; e Raquel Ramos, elemento da equipa do Gabinete Coordenador da RBE.
1984 + 40: EUA a caminho da distopia“Kamala Harris vai derrotar Trump”. Pois é, Álvaro Vasconcelos, tal não aconteceu. Morre a liberdade com aplausos. Aqueles que votaram, talvez o tenham feito pela última vez. Venceu o condenado, o mentiroso, o traidor, um “Capitão América” que pôs segredos de Estado em risco. Quem, em seu perfeito juízo, no rescaldo do 6 de janeiro de 2021, acreditaria que Trump voltaria à Casa Branca? Ninguém! Juízo implica razão e, por isso, no mundo da razão, ganharia Kamala. Mas vivemos num mundo romântico – já dizia João da Ega. A política do bom senso não tem lugar no mundo da superficialidade e da desinformação. George Orwell mostrou como a propaganda manipula as emoções das massas a favor dos incumbentes. As pessoas adoram fantasias – ainda mais no berço de Hollywood – e Trump sabe disso. Não é empreendedor, antes mestre de cerimónias, mago do "marketing". A narrativa de “Tornar a América grande outra vez” é apelativa, especialmente em tempos de crise económica e geopolítica. Os americanos veem preços altos, carteiras vazias, notícias de guerras e miséria. Pouco importa que Biden tenha tido resultados económicos positivos, controlado a inflação ou enfrentado crises globais fomentadas pela administração anterior. Pouco importa que Trump seja incompetente, insensato, misógino e que tenha incitado à violência e jogado contra a democracia. E qual é a resposta dos ditos racionalistas? É, como Vasconcelos refere e muito bem, o menosprezo das consequências da eleição de Trump, o qual, francamente, nada tem de racional. Esta apatia levará o mundo para uma espécie de “live-action” ao estilo de 1984, a distopia de Orwell. É triste como até a Europa, depois de tantos tiros, continua a não usar colete à prova de balas. Não podemos ser tolerantes à intolerância! A razão não prevaleceu. Kamala Harris não derrotou Trump. Preferiu-se o filme ao documentário; por isso, eu não sou tão otimista como Álvaro Vasconcelos. Afinal, a razão é um pilar frágil no sustento da esperança. Mas não nos apoquentemos, pois, em breve, a mentira tornar-se-á verdade, e todos amaremos “o Grande-Irmão”. Francisco Maria Jerónimo Antunes, 12.º anoAgrupamento de Escolas de Caneças, Odivelas |