Mirandês – uma língua não morre enquanto andar no falar e no sentir. Era este o título do trabalho do PÚBLICO, com data de 8 de outubro de 2023, que inspirou o mais recente vencedor do concurso mensal “Isto também é comigo!”, promovido pelo PÚBLICO na Escola e a Rede de Bibliotecas Escolares. Integraram o júri: Ana Beatriz Pereira, aluna do 11.º ano da Escola Secundária Vitorino Nemésio, na Praia da Vitória (ilha Terceira); Carla Fernandes, elemento da equipa do Gabinete Coordenador da RBE; Cláudia Sá, professora de Português e coordenadora do Clube de Jornalismo da Escola Básica António Correia de Oliveira, em Esposende; e Luísa Gonçalves, coordenadora do PÚBLICO na Escola.
Mirandês: um património a preservar na era digitalNo início deste ano letivo, numa aula de Português, discutimos um texto sobre a morte das línguas. Por esse motivo, li com particular interesse a reportagem do PÚBLICO, sobre o mirandês, assinada por Luísa Pinto e por Teresa Pacheco Miranda. Pensei que seria importante refletir sobre o património linguístico e a preservação das línguas minoritárias. Ao longo dos anos, vários académicos têm demonstrado interesse pelo mirandês, e esta língua beneficiou de múltiplas medidas para a sua preservação. Não obstante, a diminuição da população tem-se refletido na redução do número de falantes e o enleio legislativo tem adiado a efetiva oficialização da língua. Além disso, como está claramente expresso na reportagem, o português e o mirandês competem no mesmo espaço, sendo a primeira a língua que goza de maior prestígio social, a língua do «falar grabe», que vê o seu uso fomentado, sobretudo em contextos formais. Do meu ponto de vista, a preservação das línguas minoritárias garante a diversidade cultural e valoriza o nosso património linguístico. Apesar de as iniciativas legislativas serem bem-vindas, creio que é necessário pensar em formas de divulgação e de fomento da aprendizagem do mirandês, nomeadamente através dos recursos digitais, como sites ou cursos on-line. Também julgo que é fundamental incentivar a tradução e a publicação de livros, em língua mirandesa. Estou absolutamente convicto de que, deste modo, outras pessoas fora do planalto mirandês podem aprender e interessar-se pela língua. No texto a que aludi no início, da autoria de Moreno Cabrera, intitulado «El universo de Las Lenguas», as línguas que morrem são assinaladas num mapa com uma cruz e já muitas se perderam. Para que uma língua não corra o risco de desaparecer, de acordo com o autor, é necessário ter, pelo menos, dez mil falantes. Ora, no caso do mirandês, encontramo-nos já muito abaixo desse limiar. |