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Nativismo português excessivo, pelos olhos de uma brasileira

“Como imigrante, geralmente não sou levada a sério.” Opinião de Michele Pereira vence

[28.03.2024]
 Aluna frequenta o 12.º ano na Escola Secundária Almeida Garrett, em Vila Nova de Gaia.

"Isto também é comigo!"é um concurso mensal (regulamento), iniciativa do PÚBLICO na Escola e da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE). Nesta edição, integraram o júri: Ana Beatriz Pereira, aluna do 11.º ano da Escola Secundária Vitorino Nemésio, na Praia da Vitória; Carla Fernandes, elemento da equipa do Gabinete Coordenador da RBE; Carolina Franco, jornalista, PÚBLICO na Escola; e Cláudia Sá, professora de Português e coordenadora do Clube de Jornalismo da Escola Básica António Correia de Oliveira, em Esposende. O texto da professora e investigadora Cristina Roldão que motivou a opinião da aluna vencedora foi dado a conhecer, no PÚBLICO, no dia 15 de fevereiro de 2024. ]

Fotografia de Michelle

 

Nativismo português excessivo, pelos olhos de uma brasileira

Compreendo que, como imigrante, geralmente não sou levada a sério. Normalmente, não me coloco em posição de escolha política, em posição de exigir algo “melhor” socialmente, em posição de reclamar de má-educação em locais públicos, porque sei o que me espera.
São incontáveis os discursos de ódio que ouvi durante os anos que aqui tenho vivido. Sejam brincadeiras, sejam comentários fundamentados, é quase natural e orgânico que aconteçam. Por isso, é normal que eu espere ouvi-los e que alerte a minha família para isso. Precaver é melhor do que remediar.

Mas é custoso, e até inconveniente, que essas mensagens sejam proferidas por pessoas da “elite social”, sobretudo por políticos que sabem a influência que têm sobre a população e vulgarmente utilizam o populismo para manipular as massas. Tal como refere Cristina Roldão, no seu texto “Chega de racismo e xenofobia”, André Ventura “desumaniza os imigrantes” e “não se preocupa com as atrocidades históricas feitas além-mar”, destratando “o capital estrangeiro e os trabalhadores imigrantes”, que, na sua maioria, aceitam empregos nos quais os portugueses não estão dispostos a laborar.

Compreendo que a manutenção da cultura é algo importante. No entanto, é preciso perceber que a diversidade cultural é primordial para expandir experiências, sabedorias, e princípios… Eu adaptei-me à cultura portuguesa sem perder a minha essência brasileira, e não a imponho aos meus colegas lusitanos. Pelo contrário, estou sempre aberta a explorar um pouco mais sobre Portugal.

Enquanto as falas da extrema-direita não cessarem e os prestigiados da sociedade não tiverem verdadeira consciência do que dizem, não assimilando que Portugal tem coisas tão boas que fazem alguém deixar a sua vida para reconstruir a sua existência e contribuir de variadas maneiras para o seu destino, crianças inocentes e adultos desgastados continuarão a viver na pobreza, na insatisfação, na amargura e no desgosto

Michele Syozi Pereira
Escola Secundária Almeida Garrett, Vila Nova de Gaia
12.º ano
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