No contexto da participação da Rede de Bibliotecas Escolares no Folio 2021, subordinado ao tema O Outro, publica-se uma série de artigos que serviram de base a encontros e workshops.

Parte 1

Em tempo de encerramento desta nova edição, o tema para o qual fomos convocados à reflexão impõe-se, para se perceber o alcance do sujeito nós, desde a dimensão mais próxima à mais distante.

A história da humanidade está carregada, infelizmente, de factos bem reveladores de grande indiferença e desumanização: situações de desigualdade, de falta de liberdade, de totalitarismos… modos de estar centrados no eu que, sobretudo, nos dois últimos séculos, têm vindo a ser contrariados e sustentados por textos de pensadores e declarações, materializados em grandes mudanças/ revoluções, como seja, por exemplo, a que aconteceu na Revolução Francesa.

Esta ideia transformadora da humanidade tem vindo a ser acrescentada com novos acontecimentos que, por sua vez, originam documentos e manifestos, que se atualizam e complementam, procurando dar resposta aos conflitos e situações mais gritantes. Tudo isto, acompanhado pela tomada de consciência da existência de múltiplas realidades, por uma perceção que se pretende cada vez mais holística e sistémica do mundo, que contribui para evidenciar a importância de se reconhecer e compreender o outro, naquilo que o diferencia.

 A declaração Universal dos Direitos Humanos, após a Segunda Guerra Mundial, consubstancia preocupações que já vinham do passado, colocando a tónica na defesa da luta contra as arbitrariedades do poder e na garantia das liberdades individuais, consideradas fundamentais.

Os objetivos de desenvolvimento sustentável associam estes direitos humanos a uma visão mais global e multifacetada, desafiando-nos para um olhar amplo que considere as questões a partir de várias perspetivas, sendo elas sempre, simultaneamente, de âmbito local e global, na medida em que um condiciona inevitavelmente o outro.

 

E qual é o lugar da biblioteca para esta transformação e melhoria? 

A biblioteca apresenta-se como um cadinho bem representativo do mundo, porque é diversa a coleção de que dispõe, também nos suportes, nos formatos e nos conteúdos que disponibiliza e propõe, favorecendo a interação, o diálogo, a troca e procurando representar a diversidade de identidades, de culturas e de interesses, configurando-se como um mundo sem fronteiras, portador de condições, na escola, capazes de contribuir para a garantia e a sustentabilidade da democracia.

Os seus serviços e sugestões de atividades e projetos incluem diferentes expressões e linguagens, proporcionando assim, abertura e entendimento para as distintas realidades que o mundo comporta, melhorando a capacidade de lidar com o outro, entendendo o que o distingue e ganhando o respeito pelas diferenças.

Pela riqueza de personagens, de geografias, de tempos e de culturas, as leituras que se fazem na biblioteca e a literatura que oferece proporcionam ocasiões para observar o outro, muitos e diversos outros, e conquistar um posicionamento plural, tão necessário à boa convivialidade do mundo atual.

A melhoria da linguagem, adquirida por via dessas leituras, ajuda ao diálogo, à argumentação, à interação, essenciais a uma boa comunicação, indispensável à nossa condição humana e gregária - habilidade frequentemente estimulada através das numerosas iniciativas propostas.

A formação sistemática para o uso da informação e dos media permite a compreensão de fenómenos emergentes e globais que ameaçam conduzir a versões do mundo parcelares e enviesadas, contribuindo deste modo para uma imagem multidimensional das questões e uma participação informada na sociedade

Estas preocupações e modos de estar e fazer encontram-se bem espelhadas no novo Quadro Estratégico da RBE que aponta para uma visão humanista e inclusiva, para uma ampla formação, que favoreça o individual com tradução, naturalmente, no coletivo. 

Assim, a dicotomia eu e os outros revela-se inadequada e estamos obrigados ativar, tal como nos diz Tolentino Mendonça na sua recente crónica do jornal Expresso Nós e os outros, “os mecanismos de construção do nós, tornando-nos corresponsáveis por uma política de esperança. Em vez de dizermos eles (referindo os pobres, os excluídos, os idosos, os frágeis, os jovens fora do mercado do trabalho, os imigrantes) deveríamos ser capazes de dizer NÓS”.

 

Fonte da imagem:
Município de Óbidos. (2021). Folio: Festival Literário Internacional de Óbidoshttps://cutt.ly/LRPLTJZ
_
Contactos
_
Acessibilidade
_
Lista de distribuição
_
Blogue
_
Facebook
_
Instagram
_
Twitter
_
YouTube
_
Flipboard