Ernesto é livro de um personagem só. Nas primeiras e poucas palavras da história, o leitor fica sabendo que ele é feio, bobo, só usa roupas velhas, não sabe agradar ninguém. Ou melhor, fica sabendo que é isso o que as outras pessoas dizem que ele é. E isso muda tudo.
As descrições de como Ernesto se comporta, se veste e fala vão isolando o personagem até que a história toma um rumo horripilante (sem spoilers!). De repente, a história acaba. E o livro provoca: "ué, não gostou de como essa história termina? E segue com o trecho que melhor resume a sua razão de existir: “mas às vezes é assim que algumas histórias acabam". Depois, cutuca ainda mais fundo: “Tem gente que pensa que quando acabam assim, não é culpa de ninguém”.
Com muito bom humor e um tantinho refinado de ironia, o livro não didatiza o assunto do bullying, da diferença e da exclusão, mas sim materializa o preconceito em uma história de fácil identificação, que emociona e chacoalha nossas visões de mundo. Afinal, se não conhecemos tantos Ernestos assim, alguém nos esconde deles - a sociedade que nos cobra perfeição, a mídia que reverencia determinados tipos sociais, ou os próprios Ernestos, que não se sentem encorajados a exibir seus fracassos. Algo de muito errado existe se não conseguimos nomear a exclusão que sentimos quando algo não sai como o planejado em nossa forma de ser e agir, e este livro é sobre isso.