Esta história demonstra que somos capazes de fazer coisas que parecem impossíveis pelas pessoas de quem gostamos, e que merece a pena chegar a velhos, mas muito velhos, para aproveitar tal como elas os grandes prazeres da vida — um grande banquete — ou os pequenos — um diminuto feijão.
Charo Pita lembra-nos que a idade é um presente: está cheia de vida e de mistérios. Uma cara esculpida pelas rugas é como uma árvore milenária. O tronco grosso floresce a cada Primavera da mesma forma que uma pessoa idosa a cada amanhecer. Assim são Antónia e Filipa, aventureiras do dia a dia, do carpe diem.
As velhinhas é um conto de renascimento na velhice, com elementos mágicos próprios dos contos tradicionais, onde o cuidado, a paciência, a imaginação e a valentia transformam a rotina de duas mulheres idosas que gostam uma da outra com uma alegria e uma força capazes de vencer qualquer contratempo.
Fátima Afonso oferece-nos neste álbum uma amostra, contida mas eficaz, da sua demonstrada capacidade para gerar imagens de marcado carácter narrativo, com pontuais contraposições de texto-imagem que obrigam o leitor a resolver mínimos problemas de distanciamento que respeitam em todo o momento a função narrativa que emoldura e domina o discurso plástico.
A ilustradora portuguesa propõe uma generosa série de planos médios para desdobrar um discurso dominado sobretudo pelos acrílicos, com imagens repletas de sugestivos pormenores narrativos, o que permite desfrutar de uma leitura demorada e profunda.