O tempo histórico da pandemia covid-19 traduz-se numa experiência de ordem prática, verdadeiramente global e nunca antes imaginada, de transformação radical do nosso estilo de vida. Discuti-la nas suas diversas dimensões (científica, literária, ambiental, política…) é provavelmente a tarefa mais significativa que as crianças e jovens podem esperar da escola na atualidade porque lhes permite construir uma ordem/ sentido e um significado/ propósito para o desconhecido que, não só cria e consolida competências, como apazigua o medo e devolve o bem-estar.

Abril é o mês que em Portugal se comemora a conquista da liberdade depois de mais de 40 anos de ditadura e este ano, em que o mundo é assolado por uma extrema vulnerabilidade, a questão da defesa da livre vontade/ autodeterminação levanta-se na base de uma nova experiência já em curso em alguns países e com aparente sucesso em matéria de crise sanitária: a do bio-poder ou da bio-política.

Sabemos há muito que os nossos consumos são condicionados pelos impostos que pagamos [Monteiro, H. (24.11.2018). Os impostos servem para o Estado nos dizer o que devemos consumir? Expresso], que a linguagem que usamos é influenciada pela ideologia dominante [Soares, M: (25.09. 2019). Higienização da linguagem. Público], que o Google e o Facebook exercem sobre os indivíduos uma vigilância mais eficaz do que o policiamento do passado [Reis, B.(12. abr. 2020). O preço a pagar é sermos mais vigiados? Público], mas agora o problema alarga-se quando, no contexto da pandemia, é levantada a possibilidade de utilização da tecnologia para rastreio digital de covid- 19, cuja fiabilidade de resultados depende do maior número de utilizadores. - exemplos: app Trace Together e software da parceria Google - Apple que rastreia por Bluetooth. Neste contexto e, para proteção da comunidade há inclusive países europeus que preveem a apresentação de um certificado de imunidade para regresso à nova normalidade e ao exercício de cidadania plena (DC - depois de covid- 19).

Será esta uma oportunidade de sucesso perante uma ameaça cujo alcance desconhecemos ou, pelo contrário, estamos perante um cenário que, a ser posto em prática, transforma a liberdade numa mera ficção/ ilusão [Harari, Y. (14 set. 2018). The myth of freedom, The Guardian]?
Sem preconceitos e com racionalidade é importante refletir sobre este problema prático que pode abrir o precedente para uma mudança ainda mais radical e, talvez irreversível, das nossas vidas. Desta feita para a crise pandémica, mais tarde para a resolução do problema das migrações, do terrorismo, da cibersegurança, do clima ou de outro não antevisto.
 

Fonte da imagem: EAVI. What 


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