“1. Todas as pessoas têm a obrigação e o dever de respeitar e exigir o respeito pela vida e a integridade física, psíquica e moral de todo os seres humanos.
2. Todas as pessoas, organizações económico-empresariais e organizações sociais e culturais, têm o dever, a obrigação e a responsabilidade de não participar nem aceitar práticas de desaparecimento forçado, escravidão, tráfico de crianças e adultos, tortura, práticas inumanas, cruéis e degradantes, violência de género, exploração infantil e trabalho forçado.”
“1. Todas as pessoas temos o dever e a obrigação de cuidar da nossa saúde, assim como de fazer uma utilização racional e responsável dos serviços de saúde.
3. Todas as pessoas têm o dever de exigir prestações de saúde de carácter gratuito e universal […].”
“Todas as pessoas têm o dever e a obrigação de contribuir para o cuidado de pessoas em situação de dependência ou vulnerabilidade.”
Fundação José Saramago. (2017). Carta Universal de Deveres e Obrigações dos Seres Humanos. https://www.josesaramago.org/carta-universal-dos-deveres-e-obrigacoes-dos-seres-humanos/Reflita e discuta, em grupo, a situação narrada por José Saramago, em Ensaio sobre a Cegueira (1995), comparando-a com a atual gerada pela pandemia Covid-19
1. Qual é o significado da “cegueira branca”? Ela existe na vida real? Fundamente com exemplos do livro e da sua vida diária.
2. Na história narrada quais são as formas de discriminação/ violência e crise ambiental? E os agressores e vítimas? São semelhantes à vida real? Justifique.
3. No romance qual foi a resposta da sociedade e do Governo a esta doença? A pandemia Covid-19 provocou no mundo respostas idênticas? Justifique com exemplos do livro e da atualidade.
4. Porque é que Saramago não atribui nome próprio aos personagens e à cidade? E porque escolheu um manicómio desativado como cenário da história?
5. Quais terão sido as razões que levaram o autor/ narrador a escolher a “mulher do médico” como guia dos personagens? Na vida real esta personagem existe? Justifique, lendo excertos e apresentando exemplos.
6. Experienciar e tomar consciência da situação vivida poderá gerar a transformação na cidade, conforme pergunta o autor/ narrador no excerto final do livro?
7. Nas nossas vidas, a vivência da pandemia Covid-19 provocará a mudança para um mundo mais justo? Exponha as suas razões, dando exemplos do livro e do dia-a-dia.
8. Selecione excertos do livro e associe-os a imagens da história narrada ou da atualidade. Com esse material recrie uma ala do manicómio da narrativa e convide elementos da comunidade a habitá-la, gerando com eles nova reflexão e discussão.
“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso, que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem.
A mulher do médico levantou-se e foi à janela. Olhou para baixo, para a rua coberta de lixo, para as pessoas que gritavam e cantavam. Depois levantou a cabeça para o céu e viu-o todo branco, Chegou a minha vez, pensou. O medo súbito fê-la baixar os olhos. A cidade ainda ali estava.”
"Estamos a destruir o planeta e o egoísmo de cada geração não se preocupa em perguntar como é que vão viver os que virão depois. A única coisa que importa é o triunfo do agora. É a isto que eu chamo a ‘cegueira da razão’.”
Quiroga, O. (1998, 11 set.). “El hombre se ha transformado en un monstruo de egoísmo y ambición”, in: Aguilera, 2010."Acho que a grande revolução, e o livro [Ensaio sobre a cegueira] fala disso, seria a revolução da bondade. Se nós, de um dia para o outro, nos descobríssemos bons, os problemas do mundo estavam resolvidos. Claro que isso nem é uma utopia, é um disparate. Mas a consciência de que isso não acontecerá, não nos deve impedir, cada um consigo mesmo, de fazer tudo o que pode para reger-se por princípios éticos. Pelo menos a sua passagem por este mundo não terá sido inútil e, mesmo que não seja extremamente útil, não terá sido perniciosa. Quando nós olhamos para o estado em que o mundo se encontra, damo-nos conta de que há milhares e milhares de seres humanos que fizeram da sua vida uma sistemática ação perniciosa contra o resto da humanidade. Nem é preciso dar-lhes nomes.”
Abramo, B. (1995, 18 out.). “Saramago anuncia a cegueira da razão” [Reportagem], in: Aguilera, 2010.