“Todas as pessoas têm o dever e a obrigação de respeitar e exigir o respeito pela cultura e línguas próprias ou alheias, assim como pela memória coletiva dos povos e seu património cultural material e imaterial e de transmitir esse património comum às gerações futuras.”
Fundação José Saramago. (2017). Carta Universal de Deveres e Obrigações dos Seres Humanos. https://www.josesaramago.org/carta-universal-dos-deveres-e-obrigacoes-dos-seres-humanos/A obra de Saramago dá conta da experiência de que a História pode ser contada de modo diferente das fontes oficiais, dando voz e dignificando aqueles que têm permanecido na sombra do poder.
Em Memorial do Convento, Bartolomeu de Gusmão, Baltasar Sete-Sois e Blimunda Sete-Luas - a Santíssima Trindade - ocupam o primeiro plano e lugar de visibilidade da narração, em desfavor das elites e vencedores, representados pelo rei D. João V e seu convento.
A ridicularização da “função” de gerar um sucessor ao trono (pp. 13-16), por oposição à relação amorosa e cúmplice entre Blimunda e Baltazar (pp. 113, 119, 149), é disto exemplo.
Assumindo a defesa do ponto de vista das pessoas anónimas e esquecidas da História:
1. Identifique, de acordo com a sua experiência e conhecimento, uma história por contar (de modo diferente). Para além das obras de Saramago, pode consultar exemplos abaixo.
2. Recolha informação de diferentes fontes e tão ampla quanto possível.
3. Narre a história com base nos factos e, ficcionando-a, use a imaginação para expressar as lacunas/ não-dito da História , o fortuito, o mistério.
4. Partilhe a sua história, lendo-a em voz alta na comunidade e publique-a a partir do blogue da biblioteca.
O seu contributo permitirá alargar e aprofundar o conhecimento do passado e construir um futuro mais inclusivo.
“Mas el-rei já se anunciou, e vem de espírito aceso, estimulado pela conjugação mística do dever carnal […]
Retirados el-rei e os camaristas, deitadas já as damas que a servem e lhe protegem o sono, sempre cuida a rainha que seria sua obrigação levantar-se para as últimas orações, mas, tendo de guardar o choco por conselhos dos médicos, contenta-se com murmura-las infinitamente […]”
“Era ainda noite fechada, Baltasar acordou, puxou para si o corpo adormecido, morna frescura enigmática, ela murmurou o nome dele, ele disse o dela, estavam deitados na cozinha , sobre duas mantas dobradas, e silenciosamente, para não acordarem os pais que dormiam na casa de fora, deram-se um ao outro.”
“[…] não falou Blimunda, não lhe falou Baltasar, apenas se olharam, olharem-se era a casa de ambos.”
“Já sabemos que destes dois se amam as almas, os corpos e as vontades […].”
“Angola tem ainda muito passado pela frente – no sentido de que há tanto passado angolano por descobrir e ficcionar”.
Agualusa, J. (2014). A Rainha Ginga – E de como os africanos inventaram o mundo. https://www.quetzaleditores.pt/produtos/ficha/a-rainha-ginga/15700986“The one duty we owe history is to rewrite it [O nosso único dever em relação à história é reescrevê-la].”
Evaristo, B. (2001). The Emperor’s Babe. https://www.penguin.co.uk/books/266/26619/the-emperor-s-babe/9780241989845.html [Epígrafe citando Oscar Wilde]“Porque escrevo? Porque tenho de escrever. Porque a minha voz, em todos os seus dialetos, há muito está calada.”
Jacob Sam-La Rose, 2002, in: Kilomba, G. (2019). Memórias da Plantação – Episódios de Racismo quotidiano. https://www.orfeunegro.org/products/memorias-da-plantaçãoBarroso, M. (2020). Ordem moral. http://ordemmoral-filme.com/ [Filme sobre Maria Adelaide Coelho da Cunha, herdeira do Diário de Notícia].
Galope, F. (2014). O herói português da I guerra mundial – De anónimo nas trincheiras a herói nacional, a história de Aníbal Milhais, o soldado Milhões. https://www.bertrand.pt/livro/o-heroi-portugues-da-i-guerra-mundial-francisco-galope/15800156
Globo. (2020). Mulheres Fantásticas. https://www.youtube.com/playlist?list=PLK6QhsRKXktISGmpobvYOBhkPw4fM9bPu [Vídeos sobre 11 mulheres que transformaram a História].
Igntofsky, R. (2018). As cientistas – 52 mulheres intrépidas que mudaram o mundo. https://www.bertrand.pt/livro/as-cientistas-rachael-ignotofsky/20916041
Lemmons, K. (2019). Harriet. https://www.imdb.com/video/vi3345333273 [Filme sobre Harriet Tubman, nascida escrava e que contribuiu para o abolicionismo].
Louro, S. (2015). O Cônsul desobediente – A história de Aristides Sousa Mendes, o homem que para salvar 30 000 vidas, desafiou Salazar e foi perseguido. http://www.saidadeemergencia.com/produto/o-consul-desobediente/
Mieszkowska, A. (2011). A História de Irena Sendler - A mãe das crianças do Holocausto. https://www.wook.pt/livro/a-historia-de-irena-sendler-anna-mieszkowska/11822452.
Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado. (2020). Sarah Affonso - Os dias das pequenas coisas. http://www.museuartecontemporanea.gov.pt/pt/programacao/Sarah-Affonso-Os-dias-das-pequenas-coisas [Exposição com ligações a livros, vídeos e podcasts].
Plano Nacional das Artes. (2020). A arte pode ser protesto? https://www.pna.gov.pt/desafiopna/ [Desafio de aprendizagem sobre as Guerrilla Girls, em reação à exposição An International Survey of Recent Painting and Sculpture, na qual 8% das artistas são mulheres.]
Satrapi, M. (2020). Radioativo. https://www.imdb.com/title/tt6017756/ [Sobre a cientista Marie Curie, primeira mulher a ser distinguida com o Prémio Nobel e única galardoada com dois Prémios Nobel.]