Temos a obrigação ética de não mandar um aparelho a Marte quando há milhões de pessoas a passar fome?

Carta Universal de Deveres | Preâmbulo e Artigo 19

 “[…] as possibilidades de alcançar o desenvolvimento pleno das pessoas não se esgotam no cumprimento dos deveres jurídicos, sendo as obrigações éticas igualmente indispensáveis”.

“[…] todas as pessoas têm o dever e a obrigação de contribuir para o cuidado de pessoas em situação de dependência ou vulnerabilidade […]”

Debate Alta Pressão [1]

Colonização humana permanente de Marte, controlo de robôs através do implante de chips no cérebro humano, edição do genoma [2] ou (re)construção de monumentos, como a Catedral de Notre-Dame em Paris, são desafios em que as empresas e pessoas mais ricas do mundo investem os seus recursos.

1. Qual é o propósito da ciência e tecnologia? Ser útil ou tornar o planeta habitável e humano?

2. A ciência e tecnologia (economia, militar, media…) devem dialogar com os cidadãos e as artes e humanidades para alcançarem o seu propósito? A divulgação existente é acessível, suficiente e tem esse propósito? Justifique.

3. Há líderes locais e mundiais na área das artes e humanidades, que possamos ouvir antes de decidir? Justifique e, se possível, apresente exemplos. 

4. Se lhe parecer conveniente, dialogue estes tópicos com cientistas, escritores, artistas, juristas, filósofos e outras pessoas das artes e humanidades.

5. Temos a obrigação ética de não realizar estes investimentos quando “quase 690 milhões de pessoas passaram fome em 2019” [3]? Há diferenças entre estes investimentos (ciência e pseudociência)?

6. Fundamente os seus pontos de vista considerando que nem sempre ciência ou arte têm impacto imediato. Por exemplo, o físico Michio Kaku [4] admite que os dinossauros poderiam hoje povoar a Terra caso tivessem desenvolvido no passado um programa espacial e a UNESCO [5] considera que a arte promove benefícios económicos, bem-estar e paz.

Referências
1. RTP. (2020). Alta pressão. https://www.rtp.pt/programa/tv/p27652 
O título deste debate, Alta Pressão, é emprestado do programa da RTP sobre desportos radicais porque o pensamento é a atividade humana maximamente radical, a única que tem o poder de mudar o mundo.

2. FCUL (2020, 9 out.). Prémio Nobel da Química 2020 - As cientistas que descobriram como reescrever o código da vida. https://ciencias.ulisboa.pt/pt/noticia/09-10-2020/pr%C3%A9mio-nobel-da-qu%C3%ADmica-2020?page=1 

3. UNICEF. (2020). À medida que mais pessoas não têm o suficiente para comer e a desnutrição persiste, acabar com a fome até 2030 é uma incerteza, alerta relatório da ONU. https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/acabar-com-fome-ate-2030-e-incerteza-alerta-relatorio-onu 

4. FFMS. (2019). Encontro "Ciência e Universo - Conversa Cósmica. https://www.youtube.com/watch?v=c2QrdBem1cc 

5. UNESCO. (2021). Artes e artistas. https://en.unesco.org/themes/arts-and-artists

Palavras de José Saramago:

“Interrogo-me como é que é possível assistir à injustiça, à miséria, à dor, sem sentir a obrigação moral de transformar aquilo a que estamos a assistir. Quando observamos à nossa volta vemos que as coisas não funcionam bem: gastam-se quantias exorbitantes para mandar um aparelho explorar Marte enquanto centenas de milhares de pessoas não têm nada para se alimentar. Por um certo automatismo verbal e mental, falamos de democracia quando da realidade dela não nos resta mais que um conjunto de ritos, de gestos repetidos mecanicamente. Os homens e os intelectuais, enquanto cidadãos, têm a obrigação de abrir os olhos.”

Outras sugestões de leitura

“O número de bilionários na 35.ª lista da Forbes dos mais ricos do mundo, publicada anualmente, explodiu para um número sem precedentes de 2.755 pessoas, 660 a mais do que em 2020. Ao todo, as fortunas consolidadas chegam a US$ 13,1 trilhões, valor bem acima dos US$ 8 trilhões da lista de 2020.”

“Desde o incêndio que destruiu a catedral de Notre-Dame em Paris na semana passada, doações vêm de todo o mundo para restaurar a estrutura à sua antiga glória.
Pessoas comuns e bilionários prometeram pelo menos €750 milhões (£650 milhões; $835 milhões) nos 10 dias após a torre principal e o telhado do prédio desabarem num grande incêndio a 15 de abril.”