O desejo natural de conhecer e transformar o mundo pode emergir do espanto ou admiração e da indignação e crítica.
A leitura, em especial da obra de José Saramago, é fonte desta dupla atitude ativa e mobilizadora perante a realidade.
No contexto da ação de formação da Rede de Bibliotecas Escolares, Na era da responsabilidade e audácia, a necessidade de ler José Saramago com a biblioteca, a partir de uma frase e obra de José Saramago, damos voz e partilhamos espanto e indignação literária e existencial, para que cresça nas pessoas a vontade de intervirem em coisas concretas, mudando o atual estado de coisas.
"Voltei ao sítio, já o Sol se pusera, lancei o anzol e esperei. Não creio que exista no mundo um silêncio mais profundo que o silêncio da água. Senti-o naquela hora e nunca mais o esqueci."
O silêncio da água, 2011O espanto pelos profundos silêncios da vida...
M. Maia
“Com as palavras todo cuidado é pouco, mudam de opinião como as pessoas.”
As intermitências da morte, 2006
“Porque as palavras, se não o sabe, movem-se muito, mudam de um dia para o outro, são instáveis como sombras, sombras elas mesmas, que tanto estão como deixaram de estar, bolas de sabão, conchas de que mal se sente a respiração, troncos cortados.”Hoje, 24 de fevereiro de 2022, dia triste para o mundo. Estas palavras de Saramago lembram-me palavras recentes (15 de fevereiro) proferidas por Vladimir Putin, presidente da Rússia: ”Queremos [invadir a Ucrânia]? Claro que não”.
H. Duarte
“O da pistola continuou. Está dito e não há volta atrás, a partir de hoje seremos nós a governar a comida, ficam todos avisados, e que ninguém tenha a ideia de ir lá fora buscá-la, vamos pôr guardas na entrada, sofrerão as consequências de qualquer tentativa de ir contra as ordens, a comida passa a ser vendida, quem quiser comer, paga”.
Ensaio sobre a Cegueira, 1995A questão da busca do poder através da opressão e da violência.
H. Bolinhas
O homem de foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco para ir à procura da ilha desconhecida"
O Conto da Ilha Desconhecida" (1998)Tenhamos também nós a coragem para soltar as nossas amarras profissionais e sociais e embarcar e sair de nós próprios em busca dos nossos sonhos e verdadeira essência!
M. Afonso
“Além de o terem esfolado, a salomão cortaram-lhe as patas dianteiras para que, após as necessárias operações de limpeza e curtimento, servissem de recipientes, à entrada do palácio, para depositar as bengalas, os bastões, os guarda-chuvas e as sombrinhas de verão. Como se vê a salomão não lhe valeu de nada ter-se ajoelhado”.
A viagem do elefante, 2008A longa viagem, morte e apropriação desrespeitosa do elefante. Assim é a nossa breve vida da qual, provavelmente, nem uma parte será aproveitada/ lembrada.
S. Henriques
"Desce o menino a montanha, atravessa o mundo todo, chega ao grande rio, com as mãos recolhe quanta de água lá cabia, volta o mundo atravessar, pelo monte se arrasta, três gotas que lá chegaram, bebeu-as a flor com sede. Vinte vezes cá e lá…"
A maior flor do mundo, 2001A ideia é acreditar que somos capazes, é ter esperança e nunca desistir dos sonhos...
V. Lemos
“não falou Blimunda, não lhe falou Baltasar, apenas de olharam, olharem-se era a casa de ambos.”
Memorial do Convento, 1982Sempre que leio Saramago, sinto-me esmagada pela forma comovente como fala de amor. Não consigo compreender o ódio que sente em relação a Deus e à forma como diminui intelectualmente os crentes.
I. Santos
“Eu não gosto de falar de felicidade, mas sim de harmonia: viver em harmonia com a nossa própria consciência, com o nosso meio envolvente, com a pessoa de quem se gosta, com os amigos. A harmonia é compatível com a indignação e a luta; a felicidade não, a felicidade é egoísta.”
La Jornada, México, 1998No dia de hoje [início da guerra Rússia - Ucrânia], mais do que em qualquer outro, ecoam por muitas terras as palavras de Saramago, mas não pelos corredores dos loucos.
M. Ferreira"Desce o menino a montanha, atravessa o mundo todo, chega ao grande rio, com as mãos recolhe quanta de água lá cabia, volta o mundo atravessar, pelo monte se arrasta, três gotas que lá chegaram, bebeu-as a flor com sede. Vinte vezes cá e lá…"
A maior flor do mundo, 2001A ideia principal que esta história suscita é a crença de que somos capazes e competentes e que devemos ter esperança e nunca desistir dos nossos sonhos...
R. Lemos
A maior flor do mundo, 2001Neste pequeno grande livro as mãos fascinam-me pela sua carga simbólica. Transportam-nos para um mundo cheio de vidas: o ecossistema a que pertencemos.
A. Martins
“As minhas personagens verdadeiramente fortes, verdadeiramente sólidas são sempre figuras femininas. […] Se calhar, é porque tenho a esperança de que, talvez um dia, a mulher assuma a sua responsabilidade total e não permita que continue a ser uma espécie de sombra do homem, presente apenas para cumprir o que o homem decidir.”
José Saramago nas suas palavras, 2010É verdadeiramente fascinante como José Saramago retrata a figura feminina nas suas obras Memorial do Convento (1982) e O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984).
L. Cruz